21 março 2008

As hortas



Como lisboeta (acho) genuíno, sempre tive um certo fascínio pelo imaginário de fora de portas. Por um conjunto de memórias (cada vez menos) colectivas que nos remetem necessariamente para quintas, conventos e mosteiros, para patuscadas em retiros com parras e bancos corridos, para guitarradas e desgarradas pela noite fora (não morreu a grande Severa de indigestão, após um repasto de pombos recheados?), para esperas e largadas de touros, para salteadores e crimes à beira da estrada (como o de Sintra), para mulheres de má vida e "tocas" entre olivais, para paisagens bucólicas de outeiros, riachos e hortas.
Como nos conta Marina Tavares Dias, no primeiro volume da sua conhecida saga Lisboa Desaparecida (datado do longínquo ano de 1987, Quimera Editores):
"Até às primeiras urbanizações do século [XX], os arredores eram, quase sempre, ocupados pelas hortas. (...)
"As hortas correspondiam a um tipo de divertimento muito popular, servido pelo gosto que todos os lisboetas possuem pelo campo. Por volta de 1900, o passeio às hortas era coisa sacramental.
"O hábito remonta, contudo, ao século XVIII (pelo menos). Em escritos da época, fala-se em meijoadas nas hortas da Mouraria e Xabregas. Em pinturas do século XVIII, encontramos bailaricos e cenas de amor tendo como fundo os quintais de Benfica ou o Aqueduto das Águas Livres. As hortas eram o passeio de fim-de-semana para todos os que não tinham uma quinta ali para os lados da Calçada de Carriche. Faziam as delícias sem comportar grandes despesas".
Interrompo a prosa de Marina Tavares Dias para notar, junto dos leitores, como ter uma quinta aqui para os lados de Odivelas já foi coisa de gente fina e bem na vida...
"Como tradição, o passeio às hortas adquire a sua excepcional popularidade no decorrer do século XIX. As romagens começavam logo no domingo a seguir à Páscoa e prolongavam-se até meados do Outono.
"Pelo caminho dançava-se nos bailaricos organizados nos célebres retiros, faziam-se barricadas cujo prémio era um almoço pago, cantava-se e jogava-se pelas sombras da estrada. A Lisboa popular partia sem destino certo, para os lados do Lumiar ou do Areeiro, com paragem já estipulada e obrigatória nos famosos retiros: o Perna de Pau, o José dos Patacos, o Manuel dos Passarinhos, o Ferro de Engomar, o Colete Encarnado, o Pedro dos Coelhos, o Quebra Bilhas [ao Campo Grande].
"E nos retiros afamados, juntavam-se fidalgos, fadistas e toureiros. A tradição regista o nome de alguns animadores notáveis, que cantavam e dançavam até de madrugada. O mais famoso parece ter sido Manuel Serrano. Não havia retiro onde o não conhecessem a ele e à sua guitarra".
Com o avanço definitivo, e sem hesitações, de Lisboa para Norte (veja-se a pujante Alta de Lisboa), é em lugares como Odivelas, Famões, Caneças ou Montemor que os lisboetas genuínos - não os "importados" recentemente e que "não percebem nada de horta" - procuram esse fascínio mais ou menos perdido pelo campo, por uma certa simbiose entre couves e cosmopolitismo.
Falando de Montemor, os prezados leitores já conhecem o vizinho (e espectacular) blogue: montemor-loures.blogspot.com?
(O vício da escrita fez-me voltar a estas lides. Vamos ver se resulta...)

22 janeiro 2008

70's

Odivelas em 1974, foto de Luis Boleo

Nas últimas semanas, este espaço tem recolhido algumas mensagens simpáticas de estímulo. Agradeço, de forma muito especial, à Dra. Maria Máxima Vaz a atenção que tem dedicado a este blogue, nomeadamente, a alguns apontamentos históricos que efectuei, sobretudo, na fase inicial do projecto.
Em particular, foi muito gratificante ter contribuído, com a minha ignorância, para que a Dra. Maria Máxima Vaz desvendasse, com a ajuda de Joaquim Baptista, algumas dúvidas que ainda subsistiam em torno da história da Quinta da Nossa Senhora do Monte do Carmo, também conhecida como "Quinta do Mendes". O desenrolar dessa investigação histórica - suscitada, de forma completamente involuntária, por este blogue - pode ser acompanhado nos comentários ao "post" Boa Vida (I).
Interrompo o período de reflexão a que eu próprio me submeti para retribuir a simpatia com a revelação de uma descoberta. Andava eu outro dia a passear nessa fantástica ferramenta que é o Google Earth e não é que dou com um conjunto de fotografias de Odivelas em 1972 e 1974! Da autoria de Luis Boleo e disponíveis no Panoramio, essas fotografias constituem um interessante testemunho dos primórdios do processo de urbanização daquilo que tenho vindo a designar como "A Cidade Radiosa de Odivelas", ou seja, o espaço compreendido entre a Codivel e a Quinta do Mendes, passando pelo Bairro EDEC e pelo Chapim.
Deixo aos leitores - e, em especial, à Dra. Maria Máxima Vaz - dois desafios:
Desafio 1: De onde foram tiradas as fotografias? (dica: foi de um edifício que abordei na rúbrica "A cidade radiosa");
Desafio 2: Na fotografia ao alto (uma das 16 disponibilizadas por Luis Boleo), onde fica (actualmente) a escola básica dedicada à Dra. Maria Máxima Vaz?
P.S. - Um destes dias, vou iniciar um novo projecto - acidaderadiosa.blogspot.com - inteiramente dedicado ao estudo do desenvolvimento da Cidade Moderna na Grande Lisboa, na linha de algumas reflexões que vinha mantendo neste espaço desde há alguns meses e que dificilmente se coadunavam com um blogue de natureza local. Não obstante, Odivelas, bem como o Concelho de Loures, serão certamente trabalhados nesse novo espaço, a par de outras intervenções.

26 dezembro 2007

A Cidade Radiosa e a vida monástica



Nesta quadra festiva, apetece explorar um tema muito interessante mas pouco (ou nada) abordado pelos entendidos em questões urbanas deste nosso "querido" Portugal: a relação estreita que existe entre o desenvolvimento conceptual da Cidade Moderna e a vida monástica. O tema é de grande interesse para Odivelas dado que evidencia o grande simbolismo associado ao desenvolvimento de formas urbanas modernas num burgo com um mosteiro (S. Dinis) fundado há mais de 700 anos, no longínquo ano de 1295.
O principal teórico do Urbanismo Moderno - Le Corbusier (1887-1965) - empreendeu várias viagens na sua juventude que foram determinantes na sua formação como arquitecto, urbanista e humanista. Em particular, Le Corbusier, que era originário do Alto Jura (Suíça), realiza uma viagem a Itália em 1907 onde visita o mosteiro cartuxo de Galluzzo, no Vale de Ema (arredores de Florença). Fica impressionado com a conciliação perfeita entre a vida privada e a vida comunitária que a organização do espaço propicia, bem como com as células dos monjes com dois pisos e jardim individual.
Esta viagem será determinante na primeira proposta que fará de cidade-jardim vertical, em 1922: os apartamentos duplex com jardim próprio privativo, designados por "immeuble-villas" (literalmente, "apartamentos-moradia"), agrupados em blocos com serviços comuns aos condóminos e replicados ao longo de "Uma Cidade Contemporânea para 3 Milhões de Habitantes".
Mais tarde, levará este pensamento ao limite nas grandes unidades de habitação (a primeira, de Marselha, data de 1946-52) - uma espécie de grande transaltântico para 1800 habitantes, com apartamentos duplex propiciando a máxima privacidade e conforto (nenhum vizinho avista outro vizinho do seu apartamento; isolamento acústico; mobiliário de design prático e barato; etc.), pensados para admirar o céu e as árvores mas acedidos através de corredores que se pretendiam ruas e que também conduziam a serviços comunitários como creches, piscinas, comércio, lavandaria, entre outros. Ou não fosse o dilema entre público e privado a grande questão urbana, tão esquecida nos nossos dias.
A dimensão monástica da obra corbusiana está também presente nos passeios arquitectónicos ("promenades architecturale") que estruturam muitas das suas obras. O mais conhecido desses passeios é, porventura, o que conduz e integra a Villa Savoye: a "peregrinação" iniciava-se em Paris e tinha como primeiro destino Poissy; já na propriedade, era necessário "trespassar" os pilotis com o carro, fazendo uma curva sob a moradia e estacionando o carro na garagem; por último, já a pé, importava subir um conjunto escultórico de rampas que conduziam a um terraço-jardim também escultórico, com o objectivo último de admirar o céu e as árvores.
Iniciática era também a "promenade" que conduzia ao duplex onde Le Corbusier residiu entre 1934 até à sua morte. Situava-se também nos arredores de Paris, mais precisamente na fronteira entre este município e Bolonha. Vencida a antecâmara, era preciso evitar o elevador principal, passar uma porta que dava acesso à área de serviço, subir o monta-cargas até ao penúltimo andar, subir ao último andar por uma escada em caracol e escolher uma das 3 portas que dava acesso ao seu apartamento-estúdio. Já lá dentro, ainda se podia (e devia!) subir mais uma escada de caracol para aceder novamente a um terraço-jardim, local simbólico onde a arquitectura - e o homem - encontra o céu através da mediação do mundo vegetal.

* * *

E assim me calo, pelo menos durante uns tempos. Após dois anos, com mais de 100 "posts", mais de 16 mil visitantes, muitas críticas mas alguns elogios reconfortantes (sinceros agradecimentos a todos), este espaço vai entrar em período sabático de reflexão. Talvez para sempre...

Um óptimo 2008 para todos!

Pedro Afonso

18 dezembro 2007

Projectos e mais projectos

Talvez aproveitando o espírito da quadra bem como a mediática (e louvável) inauguração da primeira Loja do Cidadão de 2.ª Geração, a Câmara Municipal de Odivelas brinda-nos com uma exposição ilustrativa dos principais projectos em curso ou previstos (patente no Piso 2 do C. C. Odivelas Parque).
Confesso que gostei da exposição. Revela uma certa vontade em colocar Odivelas no mapa da Área Metropolitana de Lisboa, em lhe conferir centralidade não apenas geográfica mas também funcional, em apostar na qualidade das intervenções e na melhoria da qualidade de vida das populações. No entanto, a exposição tem algo de intrigante.
De facto, um bom projecto não é só um bom desenho, uma boa maquete, uma boa simulação em 3 dimensões. Um bom projecto exige uma clara definição dos promotores, dos custos de investimento, da estrutura de financiamento, dos prazos de execução das obras, das metas a alcançar. Ora, a exposição não fornece qualquer tipo de informação a este respeito.
Por exemplo, projectos de iniciativa pública (como as escolas, os jardins ou as futuras instalações dos serviços municipais) são "misturados" com projectos de iniciativa privada ou, quanto muito, a promover através de parcerias público privadas (como parecem ser os casos do pólo tecnológico O'Tech, do Parque Empresarial da Paiã ou do novo mercado de Odivelas).
Outro exemplo intrigante: projectos concluídos (como a bonita Casa da Juventude, ver fotos, ou o Centro de Exposições) são misturados com projectos quase-concluídos (como a requalificação das margens do Rio da Costa) e com boas intenções (a maior parte dos projectos).
Também não se percebe se a CMO vai privilegiar, em termos de programação dos investimentos, os jardins face às escolas ou vice-versa ou que jardins/freguesias serão brindadas em primeiro lugar. Ou, ainda. que projectos estão dependentes de financiamento pelo QREN - Quadro de Referência Estratégico Nacional para avançarem.
Outro caso intrigante é a intenção em desenvolver um sistema de metro ligeiro dotado de carruagens ... com pneus. Ou serão autocarros? Aliás, esta vontade em melhorar as acessibilidades de Odivelas à Amadora assusta-me dado que, dali, nem tudo o que vem é bom: basta olhar para o "guetto" que a Câmara Municipal da Amadora construiu em Casal de Mira, "mesmo nas barbas" do Concelho de Odivelas. Quando a CRIL estiver concluída (em 2009, segundo as previsões), tudo ficará mais claro.
Em suma, a exposição diz muito pouco sobre aquilo que é verdadeiramente importante no desenvolvimento local (e regional): as prioridades de intervenção, ou seja, a distinção entre o fundamental e o acessório. Ou não fossem os recursos financeiros escassos para grande parte das nossas autarquias, Odivelas incluída.

07 dezembro 2007

Ainda as cheias

A OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico divulgou um estudo que prevê uma triplicação da população mundial, residente em zonas costeiras, sujeita a risco de inundação no horizonte de 2070, fruto das alterações climáticas em curso.
Em particular, na Grande Lisboa (Odivelas incluída) poderão estar em risco entre 40 a 90 mil habitantes, bem como valores patrimoniais até 33 milhões de dólares americanos.
É mesmo fundamental dar uma saltada à Malaposta e reflectir em torno da exposição documental "As grandes inundações de 1967" (termina já a 9 de Dezembro).

26 novembro 2007

Tocante


"As grandes inundações de 1967": assim se chama a exposição evocativa da tragédia ocorrida na noite de 25 para 26 de Novembro de 1967, que hoje inaugurou no Centro Cultural da Malaposta após 40 anos de esquecimento.
Promovida pela Junta de Freguesia de Olival Basto em parceria com a Municipália, com pesquisa, selecção de imagens e textos da conhecida historiadora Maria Máxima Vaz, tratamento de imagem de Margarida Nunes e composição gráfica de Armando Vale, a exposição prima pelo minimalismo. Bastam apenas 10 painéis para nos tocar a alma, com a dor de famílias que ficaram completamente desfeitas - como a de Rosa, sobrevivente de uma família de 11 pessoas que ficou reduzida a 3.
A maioria das fotografias, retiradas de jornais da época, são impressionantes. Revelam o ímpeto das águas, que arrastaram pessoas, animais, carros, casas e até um camião dos Bombeiros Voluntários de Odivelas com ... 12 toneladas!
Não se sabe ao certo quantos morreram nessa fatídica noite. Talvez 600. Mas sabe-se que houve um movimento de solidariedade nacional (a importância dos bombeiros, dos fuzileiros e dos estudantes) e mundial, com doações de importantes quantias de dinheiro que, aparentemente, não reverteram a favor da maioria das vítimas - como é o caso de Rosa, que acompanhou Maria Máxima Vaz numa comovente visita guiada pelo passado, pelo infortúnio deste triste país.
A exposição é perturbante. Prenuncia a desgraça, após 40 anos de ausência de uma política de ordenamento para o Vale Odivelas-Loures, com conhecidos casos de ocupação de leitos de cheia e com a crescente impermeabilização das encostas. Ou não fossem as cheias fenómenos perfeitamente normais, que ocorrem com uma certa regularidade.
Uma exposição absolutamente essencial, até 9 de Dezembro na Malaposta.

04 novembro 2007

As oportunidades perdidas



Estamos todos de acordo que Odivelas é uma "Terra de Oportunidades". No entanto, muitas são as potencialidades perdidas ou mal aproveitadas.

Já várias vezes apontei o caso da Serra da Amoreira, um local magnífico mas muito pouco aproveitado como espaço de lazer e descompressão.

Outro bom exemplo de um espaço mal aproveitado é o que resta do antigo cemitério de Odivelas (ver foto). Que belo jardim dava! Um jardim intimista, onde as pedras antigas poderiam ter o seu lugar bem como a água a correr ao longo da leve pendente!

O local insere-se no topo Sul da Quinta do Mendes, uma das mais interessantes urbanizações de Odivelas, construída seguindo os princípios do Urbanismo Moderno, com amplas faixas verdes com equipamentos colectivos, que o ajardinamento desse espaço poderia completar de forma particularmente feliz.

28 outubro 2007

O paradoxo (II)

A Cidade de Lisboa possui três importantes obstáculos que impedem uma deslocação automóvel fluída de Norte para Sul e vice-versa.
O primeiro desses obstáculos é a linha férrea de cintura. Quem a pretende atravessar só o consegue fazer em cerca de "meia dúzia" de locais: Sete Rios, Av. das Forças Armadas, novo túnel do Bairro do Rego (junto ao Hospital Curry Cabral), Av. 5 de Outubro, Av. da República, Av. de Roma, Av. Almirante Gago Coutinho, Olaias (viaduto) e Estrada de Chelas. Tudo locais bem congestionados, como sabemos.
O segundo obstáculo chama-se Segunda Circular. O seu atravessamento é difícil por estar limitado também a "meia dúzia" de locais: Radial de Benfica, Av. Conde de Almoster, Fonte Nova, Av. Lusíada, túnel de acesso ao Colombo e a Carnide (e futuramente à CRIL), Estrada da Luz, Eixo Norte Sul, Campo Grande, Calvanas e Rotunda do Relógio. Tudo sítios simpáticos em hora de ponta! (A Segunda Circular é também um obstáculo para quem se desloca de Este para Oeste e vice-versa.)
O terceiro obstáculo, porventura o mais complexo, remete para as serras que separam Odivelas e Loures de Lisboa. O seu atravessamento faz-se essencialmente através da Auto-estrada do Norte (A1), da Calçada de Carriche e do novíssimo troço do Eixo Norte-Sul. Existem ainda outras estradas (Frielas-Unhos, Serra da Luz, etc.) com reduzida capacidade de carga, que são utilizadas fundamentalmente por trânsito de natureza mais local e para deslocações mais curtas (por exemplo, Odivelas-Telheiras).
Já aqui referi que o Eixo Norte-Sul pouco adiantou em termos de descongestionamento da Calçada de Carriche. Não é muito difícil perceber porquê. Nos concelhos de Loures, Odivelas, Mafra e Vila Franca de Xira vivem 545 mil almas, mais 25 mil do que na Cidade de Lisboa (é sempre bom lembrar...). Muitas dessas pessoas trabalham em Lisboa e deslocam-se de carro, por não terem alternativa eficaz. Uma parte de quem entrava em Lisboa pela A1/Segunda Circular passou a fazê-lo pelo Eixo Norte-Sul. Por isso, a Segunda Circular aliviou ligeiramente. No entanto, quem continua a subir a Calçada de Carriche passou a ter a concorrência, antes inexistente, daqueles que estão a utilizar o Eixo Norte-Sul como alternativa à Segunda Circular.
Adicionalmente, o acesso ao Eixo Norte-Sul para quem sobe a dita calçada passou a ter um duplo estrangulamento: logo quando se sai da Av. Padre Cruz (uma faixa de rodagem em vez das duas que existiam anteriormente) e uns metros mais à frente, antes de se entrar no Eixo Norte-Sul (duas faixas de rodagem que passam a uma faixa de aceleração curta e perigosa). Por último, a própria Padre Cruz está também muito mais congestionada em direcção ao Campo Grande, provavelmente devido aos radares e também ao estrangulamento que foi recentemente criado no acesso à Segunda Circular no sentido do Aeroporto.
Tenho muitas dúvidas se alguma vez a Calçada de Carriche vai descongestionar significativamente. Todos os obstáculos acima referidos assim o determinam. E também a pressão construtiva: é sempre bom lembrar que as Colinas do Cruzeiro são uma pequena cidade para cerca de 10 a 15 mil pessoas. Ou que "As Villas" (Urbanização Mira Lisboa, entre a Ramada e Santo António dos Cavaleiros) vai ser também uma simpática cidade "só" para 6 mil pessoas. Ou ainda que o Concelho de Mafra não pára de crescer, tendo apresentado um crescimento de "apenas" 10 mil habitantes entre 2001 e 2005 (taxa de crescimento médio anual de 4,3%, a mais elevada da AML Norte).
Contudo, também é verdade que, se a abertura do troço final do Eixo Norte-Sul tivesse sido complementada com a entrada em serviço de outras vias importantes para tornar as ditas serras mais permeáveis, a Calçada de Carriche provavelmente não estaria a viver dias tão difíceis como os últimos. Estou-me a referir, em particular, à Av. Santos e Castro, que está parcialmente construída e que permitirá ligar o nó da Ameixoeira do Eixo Norte-Sul à Segunda Circular, na zona das Calvanas. Estou também a pensar no futuro Eixo Central da Alta de Lisboa - uma grande avenida com a mesma orientação da Av. da Liberdade e que a SGAL pretende que venha a ser uma nova centralidade de Lisboa. Algo paradoxalmente, esse suposto símbolo daquilo que já foi em tempos a Musgueira não passa de uma miragem. Esses dois eixos são, de facto, fundamentais para descongestionar a Av. Padre Cruz, apesar de ser também bom lembrar que a Alta de Lisboa será, no horizonte do projecto (i.e., em 2015), uma cidadezita com "apenas" 60 mil habitantes, ou seja, uma espécie de Évora ou Faro plantada entre a Segunda Circular, a Padre Cruz, o Aeroporto (ou o que futuro lhe destinar) e Odivelas.
Tenho alguma esperança que os futuros acessos da CRIL a Carnide/Centro Colombo/Segunda Circular (via Alfornelos) possam ajudar a "nossa" calçada. No entanto, também o futuro não é muito promissor para estes lados. A Radial da Pontinha / IC16 vai ser prolongada em direcção a Sintra, tendo em vista descongestionar o IC19. Por outro lado, junto ao nó do IC16 com a CRIL está a ser construído aquele que será o maior centro comercial de Portugal (Dolce Vita Tejo). Só não vê quem não quer ver que está em formação uma nova centralidade na Grande Lisboa, na confluência dos concelhos de Lisboa, Odivelas e Amadora (veja-se o novo Hospital da Luz).
Ora, Odivelas só ficará menos encravada face a Lisboa se a Serra for, de facto, "partida". Talvez não fosse má ideia começar-se a pensar num túnel que permitisse ligar o nó do Odivelas Parque a Telheiras...

21 outubro 2007

A cidade radiosa (IX)



A "Cidade Radiosa" está de volta! Hoje vou falar de um dos edifícios mais emblemáticos e interessantes de Odivelas, conhecido localmente por "Hotelcar".
Trata-se de um grande bloco de apartamentos, composto por quatro edifícios independentes assentes sobre pilotis e acedidos por um terraço-rua. Este último desenvolve-se sobre um embasamento com garagens e é servido por duas escadas que permitem passar do espaço público (a rua propriamente dita) para o espaço semi-público formado pelo citado terraço, onde existem também algumas lojas. O edifício "Hotelcar" possui ainda outro traços arquitectónicos eminentemente modernos, nomeadamente, uma fachada com um tratamento algo livre e cobertura com terraços-jardim.
Apesar das marquises que o descaracterizam parcialmente, o edifício em estudo mantém aquela pose fascinante dos grandes blocos que dominam a paisagem e que permitem uma certa permissividade entre os espaços públicos e os espaços privados de uso público. Localiza-se, aliás, num local de grande simbolismo para a Cidade de Odivelas: a fronteira entre um espaço urbano mais tradicional, de avenidas e quarteirões, e outro mais moderno, de blocos e torres dispostos de forma mais errática ao longo de espaços que deveriam ser mais verdes.



É difícil não associar o bloco "Hotelcar" a uma linha (muito interessante!) de edifícios que se construíram essencialmente nas décadas de 60 e 70 e cuja fonte de inspiração é, pelo menos parcialmente, o Pavilhão Suíço da Cidade Universitária de Paris (1930-33), de Le Corbusier e (do seu primo) Pierre Jeanneret, bem como as grandes unidades de habitação também de Le Corbusier (Marselha, 1945-52, e seguintes).
Em Lisboa, essas obras inspiraram importantes edifícios como o Bloco das Águas Livres (às Amoreiras), as unidades de habitação social de Olivais Norte, os blocos da Av. Infante Santo, o (impressionante) bloco da Rua Açores (bem perto da Embaixada da Rússia, junto à Av. Duque d'Ávila) ou alguns edifícios construídos na cercania daquele que é o grande local de culto de todos os que gostam da estética moderna e internacional: a Fundação Calouste Gulbenkian.

16 outubro 2007

O paradoxo (I)

Os primeiros dias de serviço do troço final do Eixo Norte-Sul parecem revelar um estranho paradoxo: a abertura de uma nova via de grande capacidade em Lisboa, em vez de descongestionar, congestiona - nomeadamente, a Calçada de Carriche, a Av. Padre Cruz, o Campo Grande e Telheiras.
Grande parte do problema está no impasse em que se encontra a Alta de Lisboa. Como tarefa preparatória de um debate que vamos desenvolver ao longos dos próximos dias, sugiro a leitura do excelente "post" Uma Mudança de Paradigma, inserido no muito interessante blogue Viver na Alta de Lisboa (o Pedro que o assina não sou eu).
Até já.

14 outubro 2007

O Jardim da Música

Não vou falar ainda sobre o grande acontecimento da última semana: a abertura do troço final do Eixo Norte-Sul (IP7), entre a Av. Padre Cruz e o Túnel do Grilo. A razão é simples: na quinta e na sexta-feira, a Calçada de Carriche mostrou-se, algo paradoxalmente, mais congestionada do que é habitual. Provavelmente, muitos odivelenses ainda não conhecem a nova alternativa de entrada (e saída) em Lisboa, pelo que é cedo para se fazer um balanço.
Se me permitem, vou falar antes de uma descoberta que fiz, também na semana passada, na revista Arquitecturas (n.º 29, edição de Outubro de 2007). Trata-se de um projecto que promete ser uma das grandes bandeiras do actual executivo camarário nas eleições de 2009: o Jardim da Música, a construir no actual vazio urbano (um tema muito em moda) entre os Paços do Concelho, o novo Centro de Exposições e a futura Casa da Juventude, ou seja, no terreno do antigo campo de jogos do Odivelas Futebol Clube.
De acordo com o artigo publicado nessa revista, trata-se de um projecto da autoria do arquitecto paisagista Jorge Cancela, do atelier Biodesign, que "promete ser uma alavanca para a reabilitação urbana de Odivelas". Pretende-se criar um "espaço verde urbano" e já não uma praça com estacionamento subterrâneo (como o anterior executivo pretendia) que se venha a assumir como "um ponto de descompressão e de encontro de pessoas e de gerações, com várias valências".
Ainda de acordo com esse artigo, o conceito do futuro jardim "consiste em pegar em elementos da composição do jardim português tradicional e adaptá-los à realidade urbana". O seu desenho será fluído e permitirá passar, "com naturalidade, do pomar até ao campo de aromáticas, passando pelo olival, o prado e a mata". Terá uma praça com um anfiteatro ao ar livre bem como um banco corrido com 80 metros de comprimento coberto por uma pérgola. O poço e a nora já existentes serão preservados. Será construído um caminho de água culminando num espelho de água com funções "micro-climáticas". No entanto, a grande inovação (tecnológica) deste jardim será a inclusão de equipamentos interactivos ligados à música.
Em Odivelas existem mais árvores do que muitas vezes se pensa e se afirma - como os leitores habituais deste espaço bem sabem. No entanto, é notória a falta de um espaço verde com dimensões consideráveis, que possa funcionar como um ponto de referência e de descompressão numa cidade algo tensa e com o conhecido problema da má imagem que transmite para o exterior.
Paralelamente, ainda há poucos meses defendi, no "post" Ainda em torno do Centro Histórico (21.08.2009), que a vida de rua que ainda existe em Odivelas (algo cada vez mais raro nas nossas cidades, infelizmente) pode, e deve, ser canalizada para o Centro Histórico. E que esse centro pode ser um dos espaços mais espectaculares da Grande Lisboa, pelo património (secular) existente, pelo grande sentido urbano do Largo D. Dinis e também pelas potencialidades que encerra o citado vazio urbano.
O Jardim da Música, de acordo com o que é possível vislumbrar através do artigo da revista Arquitecturas, é pois muito bem vindo. A obra deverá arrancar em 2008, para inaugurar em 2009.

08 outubro 2007

Abriu a época da caça


Abriu a época da caça às ... "borboletas". As Redes Energéticas Nacionais (REN) enfrentam os poderes judicial e popular. Um tema importante para Odivelas, a seguir com muita atenção. Eis os desenvolvimentos mais recentes (em actualização):

Almada: Assembleia Municipal unânime contra afectação de terrenos municipais à REN (RTP, 20.12.2007)
REN vai desligar linha de muita alta tensão Fanhões-Trajouce (Público, 18.12.2007)
Cidadãos protestam contra linha de muito alta tensão em Almada (TSF Online, 12.12.2007)
Linha de alta tensão entre Tunes e Portimão vai ter traçado alternativo (Público, 07.12.2007)
Perto de 150 pessoas manifestaram-se junto ao Parlamento contra as linhas de alta tensão (Público, 24.10.2007)
Acção principal contra linhas de muito alta tensão tem início hoje no tribunal de Sintra (Público, 19.10.2007)
Penedos garante que “não há riscos para a saúde” (Jornal de Negócios Online, 08.10.2007)
REN recebe representantes da população em protesto contra linha de muito alta tensão (Público, 04.10.2007)
REN não vai desligar para já linha de muito alta tensão (TSF Online, 04.10.2007)
População do concelho de Silves protesta contra linhas de Muito Alta Tensão (TSF Online, 04.10.2007)
REN emite comunicado sobre "Exposição da População aos Campos Electromagnéticos" (03.10.2007)
Tribunal manda desligar linha de alta tensão em Sintra (TSF Online, 02.10.2007)
Sintra: REN vai recorrer da decisão do Supremo de desligar linha de muito alta tensão (Público, 02.10.2007)
REN em "Visto da Economia", por Helena Garrido

30 setembro 2007

O Vale da Morte

Os acontecimentos de Sacavém, hoje de manhã, fazem-nos lembrar a perigosidade das zonas baixas da bacia hidrográfica do Rio Trancão, cuja foz fica junto a esse povoado do Concelho de Loures.
O vale que se estende da Paiã até Loures é particularmente perigoso. Na próxima noite de 25 para 26 de Novembro "comemora-se" uma efeméride muito triste: os 40 anos das grandes cheias de 1967, que mataram - segundo se sabe - cerca de 500 pessoas na Grande Lisboa, 300 das quais no território do actual Concelho de Odivelas. Encontraram a morte na lama muitos dos que viviam nas margens do Rio da Costa e das ribeira de Odivelas e da Póvoa de Santo Adrião. Foi um acontecimento marcante na época, que mobilizou muito voluntários (nomeadamente, estudandes universitários), pessoas que, pela primeira vez, tomaram contacto com a miséria que grassava (e grassa) nos arredores de Lisboa, com o Portugal que nos envergonha a todos.
A Urmeira foi um dos locais mais fustigados por essas mortíferas cheias. É curioso que, ainda hoje, a Urmeira é um daqueles lugares que se evita à noite, de encruzilhadas, de estradas sombrias. E de quintas insólitas.
Outro dia, vinha eu dos lados do Bairro Padre Cruz pela Serra da Luz e, como é típico, parei o carro antes do congestionado e perigoso cruzamento com a Estrada da Paiã (para quando uma rotunda ou semáforos?). E não é que, do lado esquerdo, dou com a Quinta do ... Enforcado! Que a Urmeira foi lugar de morte, já eu sabia. Que tinha uma quinta dedicada a um enforcado, não fazia a mínima ideia!
Quem teria sido esse desgraçado? Alguém que perdeu tudo também com uma situação de cheia, enforcando-se em pleno desespero? Ou simplesmente um bandido famoso de outras eras? Que estranho...
Podemos não saber quem foi o enforcado da Urmeira. Mas não podemos fazer de conta que não sabemos que as cheias são fenómenos naturais, que acontecem com uma determinada periodicidade. E que, mais tarde ou mais cedo, vai haver desgraça no Vale de Odivelas-Loures, o "Vale da Morte" da Grande Lisboa.

Consequências das cheias de 1967 na zona da Urmeira / Pontinha (in As Cheias de Novembro de 1967 em Lisboa)

P.S. - Desconheço se está prevista alguma evocação dos 40 anos da noite de 25 para 26 de Novembro de 1967. Talvez não fosse má ideia uma iniciativa oficial que relembrasse tão triste acontecimento, tendo em vista evitar que semelhante tragédia se repita num futuro, esperemos, longínquo.

25 setembro 2007

A cidade e as serras

Grande parte da "piada" da Cidade de Odivelas está no facto de ser rodeada por serras. Se é verdade que, em geral, as mesmas estão muito longe de estar bem tratadas - as dávidas da natureza atrairam, nomeadamente, muita habitação ilegal - também é verdade que as serras que cercam Odivelas encerram e escondem factos insólitos e algumas surpresas.
Há uns dias tive a experiência extraordinária de ter estado numa aldeia para lá das serras - mas a menos de 15 minutos da minha casa (e a cerca de 25 minutos do Campo Grande) - numa autêntica festa do Portugal rural profundo. Havia bailarico com a cassete do Quim Barreiros, havia febras salgadas, havia cerveja sem copo, havia campo a perder de vista (ver foto), havia gente genuína e com hábitos ainda algo comunitários, que conta estórias do tempo em que Odivelas era "terra de lavoura".
Como é isto possível em pleno Séc. XXI e numa grande área metropolitana? Falta-me bagagem sociológica para explicar tão interessante fenómeno da periurbe lisboeta.
Em todo o caso, fiquei com a estranha sensação de ter estado muito, muito longe, mas ao mesmo tempo perto de casa e de uma certa portugalidade, algo pimba mas muito nossa. Talvez o que falte a Portugal (e a Lisboa) é deixar-se de cosmopolitismos parolos e assumir-se como é, com genuidade e sem complexos de inferioridade. Não estava o grande encanto de Lisboa nos seus bairros populares e nas respectivas praxes?

16 setembro 2007

A cidade neo-barroca (II)

A urbanização “Jardim da Radial” é, porventura, a primeira grande operação urbanística no Concelho de Odivelas que podemos classificar como neo-barroca, cujo início da construção remonta à segunda metade da década de 90. Localiza-se na Freguesia da Ramada, junto ao limite Norte da Cidade de Odivelas, sendo servida de forma directa por um nó do IC 22, o que a torna, de alguma forma, uma “Edge City” (Silva, Elisabete A., 2002, “Cenários de Expansão Urbana na Área Metropolitana de Lisboa”, Revista de Estudos Regionais – Lisboa e Vale do Tejo, 2.º Semestre, Lisboa, INE).

O relevo do sítio é particularmente movimentado, caracterizando-se por encostas próximas da cumeada da Serra da Amoreira com pendente acentuada, que dificultam a locomoção a pé. Não obstante, o desenho urbano adoptado no “Jardim da Radial” privilegiou a vida de rua, sendo estruturado por um conjunto de avenidas tipicamente interceptadas por outras avenidas ou ruas através de rotundas ajardinadas.

Em particular, a sua principal avenida (Liberdade), onde se localiza grande parte do comércio de bairro, é particularmente difícil de vencer a pé. Essa avenida possui uma orientação NW-SE que, dada a altimetria do local, possibilita, a quem a desce, uma vista magnífica sobre Lisboa e as serras da Península de Setúbal. Sensivelmente a meio da Avenida foi colocada uma rotunda com fonte luminosa (Tito de Morais) da qual parte, em entroncamento, uma rua (Manuel de Arriaga) que conduz, por sua vez, a outra rotunda ajardinada (Francisco Sá Carneiro) através da qual se acede à urbanização via IC 22. No enfiamento da Rua Manuel de Arriaga, junto à Rotunda Francisco Sá Carneiro, foi implementada uma igreja.

Quem se desloca, nomeadamente de automóvel, ao longo deste sistema de vias e rotundas tem uma experiência estética bem próxima daquela que caracteriza a cidade barroca, dados os elementos de interesse (rotundas, igrejas, fontes luminosas, serras) colocados estrategicamente nos pontos focais das vias de circulação. O jogo das perspectivas foi claramente privilegiado face aos aspectos funcionais: o sistema viário IC 22 – Rotunda Francisco Sá Carneiro – Rua Manuel de Arriaga – Av. da Liberdade não é apenas o elemento estruturante de uma urbanização, é também o principal acesso Norte à Cidade de Odivelas. Desta forma, por questões estéticas e de imagem da cidade, o tráfego automóvel de passagem é misturado voluntariamente com o tráfego local, com consequências nefastas em termos de congestionamento de tráfego e de segurança para os peões.

É importante notar que a citada Av. da Liberdade não é apenas um local de concentração de comércio mas também a via de acesso aos equipamentos escolares públicos que servem a zona Norte de Odivelas (Escola Básica dos 2.º e 3.º Ciclos e Escola Secundária), sendo grande o risco de atropelamento de crianças e jovens também devido à acentuada pendente da Avenida, apesar dos esforços desenvolvidos pela Junta de Freguesia da Ramada (semáforos de controlo de velocidade e painéis informativos de zona escolar).

Apesar do seu nome sugerir o contrário, o “Jardim da Radial” não tem qualquer ponto de contacto com a cidade imaginada por Ebenezer Howard. De facto, ao longo de uma estrutura viária muito tradicional, foram implementadas bandas e torres, por vezes com 12 andares. Nem sequer se recorre ao quarteirão, elemento morfológico caro à “cidade tradicional”: as bandas e as torres são dispostas continuamente ao longo das ruas corredor, sem logradouros, numa estratégia clara de maximização dos lotes.

Os espaços verdes são eminentemente cénicos, limitando-se fundamentalmente às rotundas e a algumas zonas intersticiais entre os lotes, apesar de existirem dois pequenos jardins de fruência particularmente agradável (o sistema de vistas para isso muito contribui), dotados de equipamento lúdico infantil.