28 março 2006

Boa vida (IV)

Sobre o que foi Odivelas no tempo de D. João V nada melhor do que o recurso aos relatos de Duc de Chatelet em Voyage en Portugal (1801), citado por Manuel Bernardes Branco (op. cit., p. 135):
“O convento d’Odivellas continha, no reinado de el-rei D. João V, tresentas religiosas, todas jovens e bellas. Tinha cada uma d’ellas um amante conhecido, raras vezes trajavam o vestuario da Ordem. Entregavam-se aos requinte do galanteio, e passavam por ser as mulheres mais seductoras do paiz. D’alli sahiram os numerosos bastardos d’el-rei D. João V, que d’este mosteiro fazia o seu verdadeiro harem”.
Este relato é, contudo, algo impreciso. De Madre Paula teve D. João V um filho, D. José, que foi Inquiridor-Mor do Reino.

21 março 2006

Um quadro perfeito


A fotografia acima é um quadro perfeito do Concelho de Odivelas que estamos a construir e que ficará para a posteridade.
Vemos uma rotunda, ainda em construção. Não é uma rotunda qualquer: é a super-rotunda que ligará a EN 250, a Av. Abreu Lopes e a Alameda do Porto Pinheiro.
Podiamos ver a destruição do leito primitivo e das margens de uma ribeira, mais precisamente da Ribeira de Caneças – motivada pelas obras de arte e pelo estaleiro do empreiteiro que está a construir a dita rotunda. Ter-se-ão Madre Paula e D. João V banhado nestas margens tão frágeis e tão expostas à fúria construtiva do nosso tempo?
Vemos, ao longe, mais uma Área Urbana de Génese Ilegal (AUGI), neste caso o Bairro da Serra da Luz.
Vemos, claro, uma urbanização a avançar furiosamente, como sinalizam as gruas. Não é uma urbanização qualquer: é a Urbanização de Porto Pinheiro, o estandarte do Concelho para o Século XXI.
Vemos também os inevitáveis postes e cabos de alta tensão de 220 kV.
E vemos o pouco que sobrou de uma paisagem outrora deslumbrante: uma bonito monte coroado por um velho moinho de vento.
Um belo quadro, sem dúvida. Será o futuro mesmo risonho, como afirmava há uns dias?

18 março 2006

Para pensar

O belo texto “Jardim da paz”, blogue SOUKHA.

13 março 2006

O futuro é risonho


Em matéria de praias, Odivelas estará bem servida nos próximos anos. Senão vejamos:
Quando a auto-estrada “Ministro dos Santos” estiver concluída, permitindo ligar a A8 (Venda do Pinheiro) à Ericeira, de Odivelas a esta última serão 20-25 minutos.
Por outro lado, quando a CRIL for dada por concluída (começo a duvidar mas pode ser que o maior centro comercial da Europa dê um “empurrãozinho”), e caso o projecto do túnel entre Algés e a Trafaria vá mesmo para a frente, em 15-20 minutos estamos na Costa.
O futuro apresenta-se, pois, risonho para o odivelense que gosta de ir a banhos. Quem quer uma casa de praia em Odivelas?

P.S. – Na foto vê-se Caxias, a praia mais próxima (como se referiu no anterior “post”).

12 março 2006

A praia aqui tão perto


Agora que os dias começam a ficar maiores e, esperemos, mais amenos, apetece perguntar:
Qual é a praia mais próxima de Odivelas?
É Caxias, que fica a pouco mais de 20 Km, ou a 15 minutos de carro, pela CREL (cumprindo os limites de velocidade!).
Caxias não é praia própria para banhos. A Ribeira de Barcarena não deixa, e o Tejo também não. Também não é propriamente sossegada, com os carros e os comboios sempre a passarem.
Mas é encantadora, sobretudo ao fim da tarde. Dela se avista, a nascente, a Ponte e, a poente, Paço d’Arcos e o Forte de S. Julião da Barra. Tem também um forte, de S. Bruno, recuperado em 2001 tal como a demais área envolvente. Tem uma esplanada simpática e, curiosamente, mais espaço do que se imagina quando se passa na Marginal. Até tem palmeiras, como se estivéssemos nas Caraíbas, em Marrocos ou em ... Porto Pinheiro!
O odivelense é algo claustrofóbico, talvez por viver rodeado de montes, serras e prédios altos. Precisa de espaço. Mas esquece, com alguma frequência, que tem tudo tão perto. Até a praia!

11 março 2006

Que bom que é construir na encosta (II)


Prédios galgando furiosamente a encosta. Ribeirada, Odivelas.
Mais perto do céu?

09 março 2006

Boa vida (III)


A pedido de algumas familias, a saga “Boa vida” regressa. E logo para (começar a) falar de D. João V, o maior freirático de todos os tempos!
D. João V, de cognome o Magnânimo, não brincava em serviço. Reparem que nunca ninguém viu o Arco do Cego em Lisboa. Consta que o mandou deitar a baixo porque era muito estreito para o seu coche passar nas muitas investidas que fazia a Odivelas, para se encontrar com a famosa Madre Paula.
Para o fazer com toda a privacidade e deleite, D. João V mandou construir luxuosos aposentos privados no Mosteiro de Odivelas. Sobre eles nos fala Lord Beckford, citado por Manuel Bernardes Branco (op. cit., pp. 74-75):
“Um individuo da sociedade, velho malicioso, italiano e clerigo, que tinha sahido da sua terra natal antes que o celeberrimo terremoto derribasse pelos alicerces mais de metade de Lisboa, disse-me que se recordava d’um aposento, boa mostra, isto é, adornado de espelhos e cortinas, uma especie de palacio de fadas, que communicava com o covento de freiras d’Odivellas, tão famigerado pelo piedoso retiro d’aquelle exemplar de magnificencia e santidade, o rei D. João V. Deleitosos dias ahi passou o monarcha, e os favorecidos companheiros das suas devoções.
“De que serve a gaiola mais formosa sem passaros que a aviventem? Se tivesseis ouvido a celestial harmonia das reclusas do rei D. João V, nunca vos terieis contentado no vosso primoroso pavilhão com o esganiçamento dos sopranos e os roncos dos rabecões. A suavidade (refiro-me áquelas puras vozes ) sahindo do sagrado asylo recondito, onde não é dado penetrar ente humano masculino, á excepção do monarcha, produzia um effeito de que ainda me lembro extasiado, posto que já lá vão bastantes annos. (...)”.
Louvado seja o santíssimo sacramento!

04 março 2006

Dias de tempestade

Dias como o de hoje (e ontem), fartos em precipitação, fazem-me lembrar quando era miúdo, mais ou menos há 20 anos, e fiquei impressionado, para sempre, com as imagens de Cascais transformada em Veneza, com barcos e canais (foi em 1983).
Fazem-me recordar, naturalmente, o dia 8 de Janeiro de 1996, quando o Olival Basto ficou com “água pelas barbas” e meia Lisboa sem luz eléctrica. Lembram-se? Fez agora 10 anos.
Fazem-me também imaginar a grande cheia da noite de 25 para 26 de Novembro de 1967, que matou mais de 300 odivelenses e afectou fundamentalmente o Vale da Ribeira de Odivelas (Urmeira, Silvado, Pombais) e as áreas baixas da Póvoa de Santo Adrião e da Quinta da Várzea (cf. CMO, Cheias de 1967).
E fazem-me ficar apreensivo com os autênticos rios que se formam, em dias de tempestade, ao longo das ruas de Odivelas que descem em direcção às Ribeiras de Odivelas/Caneças e ao Rio da Costa. Vejamos bem as coisas: destes cursos de água até à Serra da Amoreira, o solo está praticamente todo impermeabilizado: Bairro Olaio, Quinta do Mendes, Codivel, Quinta Nova, Casal do Chapim, Ribeirada, Jardim da Radial e, agora, Jardim da Amoreira – já muito perto da cumeada com o mesmo nome. Do outro lado das Ribeiras de Odivelas/Caneças (margem direita), as Patameiras e os Pombais estão a casar-se com a Arroja tendo como “padre” o Porto Pinheiro.
Desta forma, a água chega cada mais depressa ao fundo do grande vale. Ora, a Região de Lisboa é sujeita a grandes cheias periodicamente. Odivelas sempre foi lugar de risco. Aliás, toda esta campina que se estende desde a Paiã em direcção a Loures e a Sacavém já foi um lago noutros tempos geológicos. Mais ano, menos ano, vai acontecer desgraça, e da grossa.
A questão é simples: a bacia de retenção da Ponte da Bica e as demais obras realizadas nos últimos anos pelo Instituto da Água (INAG) serão suficientes para evitar mais mortes e avultados danos materiais em Odivelas, no Olival Basto e na Póvoa de Santo Adrião?

01 março 2006

Porto Eléctrico (I)


A Urbanização de Porto Pinheiro é o paradigma da “sintrização” do Concelho de Odivelas. Não é que esta operação urbanística não tenha algumas qualidades, nomeadamente: rede viária estruturada por amplas avenidas e rotundas-praça, qualidade arquitectónica acima da média (sobretudo ao longo das vias principais) ou, ao contrário do que tem acontecido no Parque das Nações, clara preocupação em garantir alguma homogeneidade na diversidade dos lotes (através da utilização de materiais idênticos ou semelhantes nas fachadas).
Contudo, é difícil encontrar argumentos positivos que justifiquem a dimensão e a densidade desta urbanização. E, apesar de estar ainda incompleta, não se lhe vislumbram espaços verdes significativos – para além do complexo do Odivelas Futebol Club, que não é propriamente um parque urbano, aberto à população em geral.
Mas o grande problema, a meu ver, de Porto Pinheiro é a forma descarada como os prédios vão subindo a encosta até à Arroja como se não existissem as 3 linhas de alta tensão de 220 Kv que nos trespassam a todos.
Que boa ideia seria rebaptizar o Porto Pinheiro de “Porto Eléctrico”. De facto, não vemos um único pinheiro; apenas postes de alta tensão no meio de prédios!