31 janeiro 2007

Neve outra vez

No último Domingo voltou a nevar para as nossas bandas. Não tanto como no ano passado, mas ainda assim com algum significado. Junto algumas fotos tiradas na Serra Chã e no Cabeço de Montemor, pedindo desculpas aos leitores pelo atraso da sua publicação. Mais vale tarde que nunca!

23 janeiro 2007

Manual de Sobrevivência

Vamos iniciar uma nova rúbrica dedicada a alguns objectos - nomeadamente, discos, livros e acessórios diversos - essenciais à sobrevivência na Metrópole.
Começemos pelo rádio de mesa Tivoli Model One, concebido e desenhado por Henry Kloss. O Model One está para os rádios como o iPod para os leitores de música digital. Objecto de culto nos E.U.A. e um pouco por todo o mundo, é vendido com vários acabamentos (na foto apresenta-se o acabamento azul cobalto/cerejeira) e há quem os coleccione como os relógios Swatch - outro objecto essencial à sobrevivência em meio urbano.
Eu tenhos dois Model One, e também um Model Two (estereofónico). Não me consigo separar deles muito tempo. O som é fabuloso, quente, como o dos antigos LP. A explicação está no facto do Model One ser analógico e avesso a modernisses da era digital. Tem uma inesperada capacidade em "encher" uma sala de som e vale muito mais do que aparenta. Para além disso, é lindo de morrer e não é estupidamente caro. Aliás, custa menos do que muitos leitores de música digital.
Quem experimenta o Model One jamais o largará. Tudo o resto passará à história, saberá a pouco.
Sem dúvida, uma óptima companhia para tornar um pouco menos difícil a vida na cidade.

14 janeiro 2007

Amanhecer na Amoreira

Serra da Amoreira, Odivelas. Um local magnético, único. Uma elevação com 315 metros de altitude às portas de Lisboa, com um fantástico nascer do Sol, de onde se vislumbram magníficas vistas (incluindo o Estuário do Tejo) e onde ainda cheira a campo.
Um local, contudo, muito mal tratado e terrivelmente mal aproveitado. O parque não passa de um "projecto" disso mesmo, uma vergonha - em suma. A arquitectura das vivendas é, por vezes, ofensiva no seu mau gosto e no desleixo. Sente-se a falta de uma esplanada, de um café, de um restaurante, de um miradouro.
Na Amoreira, tudo fica claro. A cidade é implacável e não vai poupar uma serra que, num país civilizado, seria uma área florestal, um sumidouro de dióxido de carbono, um "Monsanto 2" da Grande Lisboa. Veja-se o caso de Edimburgo, também presenteado com uma serra semelhante (uma "montanha" sagrada para os Celtas), onde floresce um fantástico parque, plenamente integrado no tecido urbano, em perfeita relação de complementaridade. Porque é que em Portugal nada é assim? Porque é que aqui é tudo "sem jeito"? Talvez por que a pobreza, a mediocridade e a falta de visão se alimentam a si próprias.
Na Amoreira compreende-se, porventura como em nenhum outro local, como Odivelas é uma "Terra de Oportunidades" ... perdidas.

10 janeiro 2007

Esquecimentos?

O Governo assinou hoje, com a LUSOLISBOA, o contrato da Concessão da Grande Lisboa. Juntamente com o desbloquear do processo tendente à conclusão do IC17/CRIL, tratam-se de iniciativas que importa louvar sem complexos, nem que seja pelo facto de se tratarem de impasses que se prolongavam à vários anos.
A Concessão da Grande Lisboa vai permitir, nomeadamente, o prolongamento da actual "Radial da Pontinha" (IC16) de Belas até ao Lourel, de modo a criar uma alternativa (com portagem) ao IC19 para quem habita na linha de Sintra e garantindo, em particular, uma óptima acessibilidade a Sintra para quem habita no Concelho de Odivelas e gosta de queijadas e/ou travesseiros! Simultaneamente, vai também permitir ligar Ranholas ao Linhó e este a Alcabideche, favorecendo a articulação entre os concelhos de Sintra e Cascais e o descongestionamento da "Estrada do Autódromo".
Integram ainda o objecto dessa concessão, para efeitos de exploração e conservação durante 5 anos, sem cobrança de portagens, um conjunto de lanços bem conhecidos de todos - nomeadamente, o IC 22 / "Radial de Odivelas" e o já citado IC17/CRIL, a "3.ª Circular de Lisboa". Ora, como também é do conhecimento geral, essas vias atravessam zonas fortemente urbanizadas sem serem dotadas dos necessários sistemas de protecção contra o ruído. O IC22 é, nesse aspecto, um caso paradigmático dado que corta Odivelas "ao meio" e possui uma acentuada pendente, o que obriga os veículos, quando o sobem, a fazerem-no em esforço, com a inevitável emissão de ruído, pelo que seria fortemente aconselhável que fosse dotado de barreiras apropriadas, para bem daqueles que aqui habitam.
Ora, acontece que o Governo (e os autarcas envolvidos, deduzo eu) "esqueceram-se" que o IC22, o IC17 e as demais vias já em exploração (como o IP7 - Eixo Norte Sul) integradas na Concessão da Grande Lisboa precisam - urgentemente!- de protecções contra o ruído em muitos dos seus troços. É que, da leitura atenta do Decreto-Lei n.º 242/2006 de 28 de Dezembro (Diário da República, 1.ª Série, n.º 248, pp. 8575 a 8610), que aprova as bases dessa concessão, apenas se vislumbra, entre outras responsabilidades da Concessionária, "a manutenção, em bom estado de conservação e perfeitas condições de funcionamento, do equipamento de monitorização, dos dispositivos de conservação da natureza e dos sistemas de protecção contra o ruído" (Base XLIV), nada se dizendo sobre a sua instalação de raiz nas vias exploradas sem cobrança de portagem, como são os casos do IC22/"Radial de Odivelas" e do IC17/CRIL.
Ou então fizeram-se de esquecidos, o que é típico em Portugal. É que as contrapartidas financeiras para o Estado são chorudas, cifrando-se em muitos milhões de euros, 35 dos quais pagos logo na data da assinatura do contrato de concessão.

08 janeiro 2007

Estranhos fenómenos eléctricos

Na sequência do grande apagão despoletado pelo corte de uma linha de alta tensão na Alemanha e que atingiu, nomeadamente, Odivelas, a Comissão Europeia anda a cerrar fileiras contra o sector energético. Em particular, várias eléctricas europeias estão a ser alvo de investigação por supostas práticas de cartel e pelos maus serviços prestados às populações e às empresas.
Por cá também têm ocorrido "fenómenos" muito estranhos nesse sector. Já se conheciam os lucros faraónicos da REN (110,7 milhões de euros, em 2005) que, para quem não sabe, trata-se da empresa responsável pelo transporte de electricidade e, desde 26 de Setembro de 2006, também do transporte, armazenamento e regaseificação do gás natural. Também já se sabia que esses lucros ocorreram em paralelo com um défice tarifário de muitos milhões que todos nós vamos ter que pagar nos próximos anos. E também já se sabia que os autarcas, nomeadamente, de Odivelas, de Loures, de Vila Franca e de Sintra não se preocupam mesmo nada com o facto de os seus concelhos serem atravessados por linhas de muito alta tensão tendo em vista abastecer de energia a zona favorecida e privilegiada da Grande Lisboa - leia-se, os concelhos de Lisboa, Oeiras e Cascais - como se o resto fosse simplesmente paisagem.
Aquilo que não se sabia, e se ficou a saber na semana passada (com ampla divulgação na imprensa), é que o presidente da REN conseguiu do Ministro das Finanças a isenção do imposto de transmissões e do imposto de selo no âmbito da operação de transmissão dos activos de transporte, armazenamento e regaseificação do gás natural, facto que muito se estranha em época de contenção orçamental (os valores envolvidos não foram divulgados ao abrigo do sigilo fiscal). E também que o dito presidente está a contar com os bons ofícios do novo presidente do regulador (ERSE) para obter um tarifário mais favorável para a REN ao nível do transporte do gás. Em Economia, isto chama-se abuso de posição dominante. Começamos, finalmente, a perceber por que razão o Eng. Jorge Vasconcelos (ex-presidente da ERSE) deu um murro na mesa.
É importante notar que o transporte de electricidade e de gás são dois casos clássicos de monopólio natural, ou seja, de actividades económicas que são prestadas de forma mais eficiente por uma única empresa em vez de várias. Por isso são tradicionalmente assumidas pelo Estado, de modo a evitar abusos de posição dominante e a garantir lucros próximos de zero. Tal não implica que esse tipo de actividades não possam ser assumidas por privados desde que seja assegurada uma forte regulação pública, independente e avessa a pressões.
O governo prepara-se para privatizar uma parte significativa da REN (fala-se em 19%) e está a capitalizar a empresa, como convém em tempos de aperto e de controlo do défice. Contudo, não pode deixar de assumir o seu papel de regulador de um sector fulcral para a competitividade das empresas e para o bem estar das populações. E tem que estar mais atento à forma como a REN transporta a energia eléctrica em meio urbano, utilizando soluções de recurso e evitando investimentos verdadeiramente estruturantes - nomeadamente, o enterramento das suas linhas nos espaços densamente povoados e o afastamento das subestações para locais mais periféricos da grande metrópole.
Em particular, a conclusão da ligação da subestação de Alto de Mira (Amadora) à rede de 400 kV (através de duas linhas duplas) vai, ou não vai, tornar desnecessárias as três linhas de 220 kV que atravessam Odivelas? O poste no meio da Av. Abreu Lopes (da linha Fanhões-Alto de Mira 3) é para ficar para a posteridade ou é apenas uma situação provisória? E o que dizer sobre as várias linhas que atravessam o território de Vila Franca e Loures - uma das quais (a mais recente) com impacto visual inimaginável para um Estado-membro da União Europeia? Não passarão a ser estes problemas de mais difícil resolução a partir do momento em que a REN se tornar uma empresa de capital maioritariamente privado? Não poderia ser a privatização dessa empresa uma oportunidade única para resolver os mesmos?
Tudo perguntas sem resposta, num país com contornos terceiro mundistas à beira mar plantado.

06 janeiro 2007

Ano 1

O blogue ODIVELAS:URBE faz hoje um ano.
Antes de mais, gostaria de agradecer a todos os(as) leitores(as) e amigos(as) que têm acompanhado este projecto pioneiro e independente, nomeadamente, todos aqueles que têm contribuído com os seus comentários e desabafos. Os mesmos são sempre bem vindos! Deixo, aliás, um apelo aos leitores: não hesitem em enviar os vossos textos para pedro_afonso@sapo.pt dado que gostaria, no ano 2 que agora se inicia, de desenvolver um rubrica feita pelos leitores. Os textos serão publicados desde que esteja garantida a qualidade, a independência política e a coerência com a linha editorial que tem vindo a ser seguida neste espaço.
O caminho até agora percorrido não foi fácil. Confesso que nem sempre me sinto inspirado para escrever sobre o território de Odivelas, não tanto pela falta de tema, mas sobretudo pelos mesmos erros do passado (nomeadamente, urbanísticos) que se continuam a observar todos os dias, pela ausência de espaços verdes e de lazer, pela grande passividade e pelas vistas curtas que se observa em muitas das pessoas que aqui habitam, pelos fenómenos de pobreza que se acentuam de dia para dia, pelas crianças que às vezes se observam a "brincar" dentro de contentores de lixo, pela falta de esperança no futuro que se sente quando se passeia pelas ruas da Cidade ou se anda de metro ou de autocarro. Escrever sobre Odivelas (e sobre a Grande Lisboa) é, antes demais, o exercício de auto-flagelo, um olhar para uma realidade que, em muitos casos, está muito longe do Portugal imaginado e que gostaríamos de legar para as gerações vindouras. É um exercício compensador mas altamente sofrido.
Vamos, contudo, continuar - sobretudo por respeito ao leitores habituais e a todos aqueles que se revêem, pelo menos em parte ou ocasionalmente, naquilo que tem vindo a ser dito e mostrado neste espaço de reflexão.
Vamos também continuar porque há vários temas que ainda não foram suficientemente tratados - como as AUGI - ou nem sequer ainda trabalhados - como o desemprego. Vamos também tentar falar mais sobre a Póvoa de Santo Adrião, o Olival Basto, a Pontinha, Famões, Caneças e a Ramada, procurando não concentrar excessivamente as análises na freguesia sede de concelho, como tem vindo a acontecer até agora.
E vamos procurar aumentar a periodicidade da edição de textos mas sem cair na tentação da banalidade e naquilo que já se sabe através da imprensa local e nacional. Este espaço pretende-se de reflexão sobre temas estruturantes e não sobre "fait divers" e eventos ou iniciativas de ocasião.
Importa relembrar a missão com que o mesmo foi criado, em 6 de Janeiro de 2006: "com o blogue ODIVELAS:URBE pretende-se desenvolver um espaço de reflexão em torno de um território tão problemático e, simultaneamente, tão fascinante como é o caso do Concelho de Odivelas e, em particular, da respectiva cidade sede de concelho. Pretende-se que esse espaço de reflexão seja simultaneamente apartidário, construtivo e eclético".
Bom ano para todos, sobretudo para os mais necessitados e para aqueles em que o presente e o futuro teima em não sorrir.