02 fevereiro 2006

Boa vida (I)

Deixemos a neve e passemos às curiosidades históricas. Hoje vamos falar de um grande admirador das freiras de Odivelas: o rei D. Afonso VI.
Amante da vida boémia, é sobretudo conhecido por sua mulher, D. Maria Francisca Isabel de Sabóia, o ter trocado pelo irmão, ou seja, pelo cunhado dela, o futuro rei D. Pedro II. Obrigado a abdicar (em 1667), D. Afonso VI fica detido em Sintra, no Palácio da Vila. Reza a tradição que aí terá passado os últimos anos da sua vida (morreu em 1683), tendo sido o chão do seu quarto gasto pelos seus passos (cf. Manuel de Sousa, Reis e Rainhas de Portugal, Mem-Martins: SporPress, 2000, pp. 121-122).
Muito deve ter sofrido D. Afonso VI com saudades de Odivelas, na bela Vila de Sintra:
“Uma instituição monástica, o convento das freiras de Odivelas, às portas de Lisboa, deu que falar até finais do século XVIII e ficou na história de Portugal como paradigma da vida freirática da época. Ali, freiras e noviças enfeitam-se de flores e usam luvas presas com fitas, que deixam ver pulseiras cravejadas de pedras preciosas. D. Afonso VI é visitante assíduo do convento, onde mantém encontros amorosos com noviças muito jovens. As religiosas cantam canções «indecentes», dançam e exibem-se perante o rei em trajes masculinos” – explica-nos Dejanirah Couto, em História de Lisboa (Miraflores: Gótica, 2003).
D. Afonso VI teve duas freiras preferidas em Odivelas. Como Manuel Bernardes Branco refere: “D. Feliciana de Milão fôra amante de D. Affonso VI; este, porém, deixou-a para travar de amores tambem com outra freira d’Odivellas, por nome D. Anna de Moura” (op. cit., pp. 129-130), que alimentaram acesa disputa pelo monarca. Notar que Ana de Moura era irmã de Gil Vaz Lobo Freire, o fundador da Ermida de Nossa Senhora do Monte do Carmo, hoje integrada na Biblioteca Municipal D. Dinis (cf. “post” Como era bela ..., de 09-01-2006). Boa vida!

15 Comments:

At 4:05 da tarde, Blogger Joaquim Baptista said...

Caro Gil Vaz Lobo e Gil Vaz Lobo Freire não são a mesma personagem. Gil Vaz Lobo morreu em Castelo Branco em 1678 e foi o fundador da capela de Nossa Senhora do Carmo. Gil Vaz Lobo Freire é posterior, não sei será parente, foi governador de Macau

 
At 11:40 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Até q ponto se pode atribuir veracidade a esses encontros amorosos de D. afonso VI, sabendo de antemão, os problemas sexuais de que padecia..??? Não passaria isso a penas de situações "fetichosas" sem plena consumação do acto? esclarece-me...

 
At 9:33 da manhã, Blogger Maria Máxima Vaz said...

As vindas de D. Afonso VI a Odivelas não eram amorosas, embora ele e elas, sobretudo elas,quisessem que se pensasse isso, por questão de poder e "prestígio"no meio conventual.
Eram mais exibições ao gosto de Afonso: Diz-se que eram improvisadas "touradas" no largo, que na altura era fechado por um largo portão. Maria Máxima

 
At 11:38 da tarde, Blogger Maria Máxima Vaz said...

Quanto a quem fundou a quinta de N.ª S.ª do Monte do Carmo, tenho dúvidas...não sei se teria sido Gil Vaz Lobo..., porque tb. lhe chamaram quinta Nova do Miranda. Em
1763 era seu proprietário José Joaquim de Miranda Henriques (família dos Condes de Murça?).
Temos de investigar mais esta questão.
Maria Máxima

 
At 11:51 da tarde, Blogger Maria Máxima Vaz said...

Houve casamentos entre familiares dos Lobo Freire e dos Miranda Henriques, mas a quinta parece-me que era dos Miranda Henriques...
Temos de ir à Biblioteca D. Dinis e recolher as informações contidas na lápide tumular que lá existe e cotejá-la com a que nos apresenta Joaquim Baptista e talvez nos aproximemos mais da verdade.
Maria Máxima

 
At 12:56 da manhã, Blogger Maria Máxima Vaz said...

Luísa Vilarinho, em "Uma Casa de Férias em Fins do Século XIX", p. 21,apresenta uma genealogia destas individualidades e, segundo ela, Gil Vaz Lobo é avô de Gil Vaz Lobo Freire.
A quinta de N.ª S.ª Do Monte do Carmo, em meu entender, era de um Miranda Henriques, casado com a sua irmã, Madalena da Silveira. Será? Maria Máxima

 
At 9:47 da manhã, Blogger Maria Máxima Vaz said...

Joaquim Bap.está certo.É este Gil, o dono da Q.ª,mas para construir a capela deixou ele dinheiro em testamento e só passados 17 anos foi feita a trasladação.Deixou a Q.ª a sua irmã Madalena,casada com M.de Miranda Henriques. Embora a lápide acrescente Freire, ele não tinha esse apelido. O seu nome era Gil Vaz Lobo e foi um dos conjurados de 1640.

 
At 5:53 da tarde, Blogger Maria Máxima Vaz said...

Para "anónimo", cá vai a poesia de D. Feliciana de Milão, contra a sua rival, D. Luísa de Moura:
Meu monarca, vosso amor/E vosso enleio amoroso/Tanto tem de primoroso/ Quanto de rei e senhor;/ Mas inda assim, causa dor/ E não com pouca razão/ Ver que esta vossa afeição/Motivo tem que a desdoura,/ Pois adorais uma Moura,/Sendo vós um rei cristão

 
At 11:28 da tarde, Blogger Maria Máxima Vaz said...

Já coloquei noutro sítio este comentário,mas perdi-me...e vou repetí-lo aqui.
Foi com a ajuda do Joaquim Baptista
que eliminei as dúvidas sobre a Q.ª de N.ª S.ª do Monte do Carmo e foi este blogue que me deu essa possibilidade. Agradeço a ambos. Pena é que eu seja praticamente infoanalfabeta.

 
At 8:37 da manhã, Blogger Maria Máxima Vaz said...

Já encontrei a afirmação que Gil Vaz Lobo era alcaide mor de Sintra, mas deve ser um equívoco, porque entre 1621 e 1659 era alcaide de Sintra André Albuquerque Ribafria e por sua morte, o cargo manteve-se nos Ribafria (julgo eu). Se souberem esclarecer-me agradeço.

 
At 1:19 da tarde, Blogger Maria Máxima Vaz said...

Só agora verifiquei que tive um lapso (garanto que sabia isto), pelo que peço desculpa.
A rival de D. Feliciana de Milão era D. Ana de Moura e não a Luísa.
Um dia destes deixo aqui a resposta da Ana à Feliciana. Querem ou estou cansá-los com estas
"estórias"?

 
At 8:40 da manhã, Blogger Maria Máxima Vaz said...

Replicou D. Ana de Moura:
Senhora Feliciana/A quem o tempo tirou/O felice, e só deixou/A língua que a todos dana/Atrevida empreendeis guerra/Contra Ana mimo de amor,/Por vos usurpar o favor/Do grão monarca da terra/Mas como nela se encerra/Tanta gala e descrição/Contra as forças de Milão,/Guerreira defende o posto,/E jura por-vos no rosto/O nome de um seu irmão.

 
At 10:56 da manhã, Blogger Maria Máxima Vaz said...

procurando no Google o nome Gil Vaz Lobo, aparece-nos uma oferta informativa - Freguesia de Odivelas. Como apenas se indica uma fonte, de que sou autora, declaro que o último parágrafo não foi extraído do meu texto nem o considero claro e carece de exactidão.

 
At 12:54 da manhã, Blogger Unknown said...

Olá, estou realmente fascinado com o material que tens sobre as amantes de D. Afonso VI. Sou mestrando em literatura portuguesa na Universidade de São Paulo (Brasil) e estudo uma peça de teatro que fala de uma amante freira de Afonso.
De onde você tirou os versos que mostrou? Você tem a referência bibliográfica? Será que pode me enviar por e-mail o nome do livro, autor, editora, data de publicação e páginas?
Eu ficarei, DEFINITIVAMENTE, agradecido.

meu e-mail é domjoaodacamara@yahoo.com.br

 
At 2:34 da tarde, Anonymous Caio said...

Será que a senhora pode me enviar a referência bibliográfica de onde retirou os poemas das freiras que disptavam a atenção de D. Afonso VI?
meu e-mail é domjoaodacamara@yahoo.com.br

 

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