18 fevereiro 2006

Esclarecimento

Alguns prezados leitores têm vindo a manifestar estranheza perante as “curiosidades históricas picantes” envolvendo a nobreza e as antigas monjas de Odivelas que tenho vindo a divulgar com alguma regularidade.
Informo os leitores que a saga “Boa vida” continuará, essencialmente por duas razões:
Em primeiro lugar, por motivos lúdicos. Existe passatempo mais divertido do que explorar a podridão das elites, que são, quase de certeza, as grandes responsáveis pela desgraça de Portugal?
Em segundo lugar, por motivos pedagógicos e prospectivos. Esses relatos de amores freiráticos de outros tempos servem essencialmente para provar a seguinte tese: Odivelas é terra de má fama há muitos, muitos séculos.
Ora, como um observador atento facilmente perceberá, os territórios – nomeadamente da Área Metropolitana de Lisboa (AML) – travam entre si uma luta feroz em termos de fixação de empresas, de equipamentos colectivos, de grandes superfícies comerciais e de classes abastadas.
O grande problema de Odivelas é a sua má imagem perante o exterior, que decorre, pelo menos em parte, desse passado nada glorioso, e também de contingências de cariz social e urbanístico. Tornar Odivelas um território altamente competitivo no seio da AML (já não digo no País) exigiria algo absolutamente extraordinário e marcante, um verdadeiro corte com o passado.
Alguém se lembra do que era o Concelho de Oeiras há vinte anos? Era um território “entalado” entre Lisboa e Cascais, com zonas balneares em acelerada decadência (fruto da poluição das ribeiras), com subúrbios iguais a tantos outros, com graves problemas de habitação degradada (barracas) e com uma zona interior rural e deprimida. Hoje é um dos concelhos mais competitivos e com melhor qualidade de vida do País, sede de empresas de forte conteúdo tecnológico (a importância do Tagus Parque) e residência de muitas famílias com elevado poder de compra.
Os últimos 7 anos significaram para Odivelas fundamentalmente rotundas, urbanizações medíocres e funcionários públicos. Daqui a 20 anos, será Odivelas muito diferente do que é hoje – o “Quintal de Lisboa”?

5 Comments:

At 12:33 da manhã, Blogger Maria Máxima Vaz said...

Que pena eu só ter visto agora este texto. Curiosamente, a vida das freiras nunca foi motivo de má fama para Odivelas, que antes da construção desordenada e sem critérios, até tinha boa fama. A má fama é já dos nossos dias(2.ªmetade do séc.XX).As freiras tinham muitas outras motivações para trazerem a Corte a Odivelas: as festas religiosas, as eleições das abadessas, os votos definitivos, os célebres outeiros, o bodo aos pobres no dia 9 de Outubro, aniversário de D. Dinis.....Nem tudo era negativo...
Isto não era o bordel que alguns pretendem... mas que feio, ver as coisas por esse lado apenas....

 
At 12:46 da manhã, Blogger Maria Máxima Vaz said...

A última freira que habitou o mosteiro, escreveu algumas receitas originais desta comunidade. Predominam os doces. Eu tenho uma fotocópia desse original manuscrito, que tive na minha não.
Se há coisas que devemos aproveitar são essas receitas, pois temos a certeza que são genuínas e não invenção para "cliente ver".
Já há produção industrial de marmelada,que se intitula "à moda de Odivelas", produzida na Ajuda e no Sardoal. Isto só prova a nossa incapacidade... Mas há mais potencialidades "históricas" desaproveitadas.

 
At 12:57 da manhã, Blogger Maria Máxima Vaz said...

Outra potencialidade histórica é o que poderia ser uma edição moderna dos célebres outeiros, que no modelo original, atraía a Odivelas os poetas e outras figuras da sociedade lisboeta. Por que não, a festa anual da poesia? Porquê insistir em coisas que não nos dizem nada nem nos distinguem das outras cidades com centros comerciais, vias rápidas e torres urbanas?

 
At 1:06 da manhã, Blogger Maria Máxima Vaz said...

Outra potencialidade seria um evento musical, talvez um concerto de música medieval. Se D. Dinis era poeta, músico e protector de trovadores e músicos, se este mosteiro foi famoso pela excelência do seu coro de "vozes celestiais" e pela música instrumental que as freiras tocavam com mestria, porque continuamos e fazer festas "pimba" ?!?!!

 
At 1:13 da manhã, Blogger Maria Máxima Vaz said...

E o "bodo", iniciativa de D. Dinis, não poderia renascer em versão actualizada? Era uma refeição oferecida pelo Rei aos feirantes que viessem à feira criada por ele e que se realizava no dia do seu aniversário : 9 de Outubro. Com o tempo passou a refeição para os pobres. E com a falta dos pobres, passou a ser enviada, a comida já preparada,aos presos. Ainda no séc. XIX era assim....

 

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