25 junho 2007

O fascínio dos "duplex"


A tipologia "duplex" exerce um grande fascínio sobre a generalidade das pessoas que vivem em (e gostam de) cidades. Mesmo sendo pouco práticos e difíceis de aquecer, são irresistíveis.
Os apartamentos de dois andares têm uma importância histórica na origem do Movimento Moderno e são essenciais para compreender a Cidade Moderna. Desenvolvem-se a partir da década de 20 do Século XX como reacção ao facto de as "cidades jardins", ou seja, as cidades de baixa densidade de moradias (o Restelo ou o Bairro da Encarnação são bons exemplos desse tipo de cidade em Lisboa), serem muito gastadoras de solo e promotoras da expansão urbana em mancha de óleo, como acontece nas cidades anglo-saxónicas. Os blocos com apartamentos "duplex" procuravam conciliar o melhor de dois mundos: empilhando as moradias seria possível confinar o crescimento da cidade, disponibilizando simultaneamente mais solo para parques, jardins e equipamentos colectivos. Era também uma solução mais económica do que as moradias, favorecendo o acesso à habitação sem perda de qualidade de vida. A cidade proposta pelo Movimento Moderno é, desta forma, conceptualmente uma "cidade jardim vertical".
Le Corbusier teve um papel fundamental no desenvolvimento desta brilhante ideia. Na sua "Cidade Contemporânea para 3 Milhões de Habitantes" (1922), os "immeubles-villas" - grandes blocos de apartamentos "duplex" semelhantes à sua moradia conceptual "Citrohan" - dominam a paisagem urbana juntamente com os "redents" (citados no último "post" a propósito da Quinta do Mendes) e com arranha-céus espelhados. Quer os "immeubles-villas" quer a casa "Citrohan" adoptam uma solução que é ainda hoje muito procurada (e paga a peso de ouro!): a sala com duplo pé direito e "mezzanine". Reza a lenda que Le Corbusier ter-se-à inspirado nos ateliers dos artistas parisienses e também num café que frequentava nos "loucos anos 20" para desenvolver esse tipo de sala tão urbana e agradável. Esse tipo de solução será também adoptada nos apartamentos da já aqui várias vezes referida Unidade de Habitação de Marselha.
Não são apenas os "duplex" de Le Corbusier que ficaram famosos na história da Arquitectura. Também as Casas para os Mestres da Bauhaus, construídas em 1925-26 em Dessau por Walter Gropius são ainda hoje uma importante fonte de inspiração. Nesses apartamentos "duplex" viveram artistas mais ou menos conhecidos de todos, como Wassily Kandinsky ou Paul Klee.
Também em Lisboa há alguns "duplex" famosos, como os inseridos no Bairro das Estacas (de Ruy d'Athouguia e Sebastião Formosinho Sanchez; 1949-1955) ou nos blocos da Av. Infante Santo (de Alberto José Pessoa, Hernâni Gandra e João Abel Manta, 1955). Mais recentemente, nas coberturas da Vila Expo (Parque das Nações Norte) foram também invocados os apartamentos-tipo os "immeubles-villas", provando que os ideais corbusianos estão muito longe de estar enterrados.