17 junho 2007

A cidade radiosa (VI)

A Quinta do Mendes resultou do loteamento de uma antiga quinta de veraneio, dedicada a Nossa Senhora do Monte do Carmo, cuja antiga casa foi reconvertida na actual Biblioteca Municipal D. Dinis.
Nesse loteamento foi sistematicamente empregue uma forma "clássica" da Cidade Moderna: os "redents", ou seja, edifícios dispostos em bandas denteadas.
Os "redents" foram propostos em 1922 por Le Corbusier na sua futurista "Cidade Contemporânea para Três Milhões de Habitantes". No entanto, será em 1930 que essa forma de dispor os edifícios se tornará famosa, através do plano do mais influente arquitecto do Século XX para Moscovo, conhecido como "A Cidade Radiosa", que foi apresentado no II CIAM (Congressos Internacionais de Arquitectura Moderna), em Bruxelas.
Tal como em "A Cidade Radiosa", também na Quinta do Mendes os "redents" desenvolvem-se ao longo de amplas faixas verdes (que aproveitaram parte do arvoredo da primitiva quinta), cruzadas por vias bem hierarquizadas (algumas de utilização exclusivamente pedonal) e dotadas de equipamentos colectivos (escolas primária e secundária, piscinas, o ansiado centro de saúde). A magnífica exposição solar do terreno favorece um urbanismo eclético que evoca os valores da insolação, dos espaços verdes e da circulação ordenada, mas também da praça mediterrânea.
A Quinta do Mendes é, muito provalvelmente, a experiência urbanística mais conseguida de Odivelas e uma das mais interessantes da Grande Lisboa, apesar de não ser isenta a críticas - nomeadamente, a crescente densificação que se observa quando se caminha do Centro Histórico para Norte. É, acima de tudo, uma justa homenagem ao Urbanismo Moderno e, em particular, a Le Corbusier e à sua forma de pensar a cidade.
Enterrado (ou desviado) que esteja o cabo aéreo de alta tensão da Av. Abreu Lopes - que trespassa, de forma quase mortal, tão interessante urbanização - a Quinta do Mendes poderá estar em condições de vir a ser classificada como património municipal.
É importante referir que a classificação de grandes conjuntos construídos segundo os princípios do Urbanismo Moderno poder-se-à tornar uma das "modas" dos próximos anos. Em particular, em Oeiras há muita boa gente a mexer-se para que a seminal urbanização de Nova Oeiras venha a ser classificada como legado para as gerações vindouras. Penso que a Quinta do Mendes, não tendo o mesmo significado e purismo de Nova Oeiras, tem qualidades urbanísticas suficientes para merecer tal galardão, notando ainda que se situa no perímetro de um importante monumento nacional (Mosteiro de S. Dinis), que importa salvaguardar.

1 Comments:

At 9:48 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Pedro,
Consegue dizer-nos entre que períodos as urbanizações da Quinta do Mendes foram sendo aprovadas
Luis

 

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