05 junho 2007

A cidade radiosa (V)

Fonte: Fundação Le Corbusier

Algures em meados do ano passado, quando a polémica em torno do Empreendimento Amorosa Place estava "ao rubro", andava eu entretido com um livro que deveria ser obrigatório nas nossas escolas secundárias como parte integrante da formação cívica dos jovens urbanos: Le Corbusier: Uma análise da forma de Geoffrey H. Baker (edição 1998 da Martins Fontes, num muito razoável Português do Brasil).
Foi então que descobri que existem várias semelhanças conceptuais entre o edifício poente (2) do citado empreendimento e um dos ícones do Movimento Moderno: as casas "geminadas" La Roche-Jeanneret (em Paris), projectadas em 1923 por Le Corbusier e pelo seu primo Pierre Jeanneret para um banqueiro e coleccionador de arte purista e cubista (La Roche) e para o irmão de Le Corbusier (Albert Jeanneret), onde está hoje instalada a Fundação Le Corbusier (ver foto acima). Eis as semelhanças:
1. Implantação em "L" no interior de um quarteirão;
2. Acesso (principal) através de um impasse;
3. Jogo cuidado de planos, com os remates salientes e o interior do "L" recuado;
4. Forte contraste entre uma massa embasada e outra suspensa sobre pilotis;
5. Recurso a terraços-jardim.
Acresce ainda o facto de, apesar de não se ter recorrido a janelas em fita no Empreendimento Amorosa Place (mal adaptadas ao nosso clima), as varandas são delimitadas por uma cortina de vidro também em fita, o que permite tornar a fachada particularmente transparente.
Naturalmente, existem 80 anos de diferença entre as realizações em análise. La Roche-Jeanneret é uma casa purista, famosa por Le Corbusier nela ter empregue os "Cinco Pontos para uma Nova Arquitectura" (ver Escola Avelar Brotero); o citado empreendimento, para além de ter o triplo dos pisos e algumas dezenas de apartamentos (em vez de dois), insere-se claramente num tipo de modernismo que aprecia a utilização de materiais vernáculos, algo que também caracteriza a obra corbusiana mas na sua fase pós-purista, a partir da década de 30 do Séc. XX.
Naturalmente, estamos no campo da especulação. Talvez um amigo(a) arquitecto(a) me possa ajudar a desvendar esta mera curiosidade de um mero subúrbio da Grande Lisboa.