A cidade radiosa (II)
Quando se sai da Estação de Metro de Odivelas tem-se, a Poente, uma urbanização da transição das décadas de 60 para 70 do Séc. XX que marcou o início da Cidade Radiosa de Odivelas. De facto, o seu desenho urbano é marcadamente moderno, cortando com a malha mais tradicional do centro de Odivelas, centrada na rua e no quarteirão.
Em primeiro lugar, os espaços verdes são o elemento estruturador dessa urbanização, ou seja, a (bonita) Alameda do Poder Local (onde se localiza a Junta de Freguesia) que se prolonga, em cotovelo, pela Rua José Gomes Ferreira, integrando aí um equipamento colectivo (jardim de infância). É importante notar que este tipo de faixas verdes com equipamentos colectivos são um dos elementos morfológicos mais importantes da Cidade Moderna, ao longo dos quais se deveriam desenvolver, teoricamente, vias exclusivamente pedonais (as V7, ver A Regra das "7 V").
A faixa verde em causa prolonga-se até ao recente jardim da Urbanização da Quinta Nova, passando pela futura (auto-denominada) Igreja da Codivel (ex-bairro do Casal da Amorosa), pela escola n.º 7 do 1.º Ciclo do Ensino Básico "Maria Máxima Vaz", por o que resta da antiga ribeira que corria ao longo do Vale de Romeiras (entretanto encanada) e pelo Supermercado LIDL. O Largo Elina Guimarães (Quinta Nova) também se insere, de alguma forma, nesta faixa, apesar de ainda não estar completamente ajardinado.
Em segundo lugar, em vez de quarteirões temos, na citada urbanização, torres tipo "concentrador social" (9 a 13 andares com 4 a 6 fracções por piso) e bandas - também características fundamentais da Cidade Moderna, onde a insolação e as vistas são particularmente valorizadas (cf., por exemplo, Lamas, op. cit.).
Em terceiro lugar, é notória a hierarquização das vias. Relembrando A Regra das "7 V", a urbanização é acedida através de uma via do tipo V4 (R. Alfredo Roque Gameiro), onde se localiza grande parte do comércio de proximidade, a partir da qual se desenvolvem vias dos tipos V5/V6 (Alameda do Poder Local, Rua José Gomes Ferreira, praceta circular junto ao jardim de infância). Existem ainda vias exclusivamente pedonais, ou longitudinais à dita faixa verde (tipo V7), ou transversais. Neste último caso, assumem a forma de "escadinhas", que permitem vencer a encosta com rapidez e conforto. Talvez os urbanistas tenham procurado, com esta última solução, evocar os bairros populares de Lisboa - ou não fosse Odivelas também uma cidade popular e de colinas.
O desenho desta urbanização respira a modernidade, não fria e meramente funcional, mas evocadora da vida de bairro, onde o pequeno comércio e o jardim-alameda têm uma importante função agregadora e onde há lugar à utilização de materiais vernáculos, como o azulejo.
Constou-me que esta interessante intervenção urbanística foi promovida por uma antiga empresa do Grupo Grão-Pará, de Fernanda Pires da Silva, que faliu na sequência do 25 de Abril de 1974. As partes sobrantes deram lugar, já na década de 80, à Quinta Nova, de que vos falarei a seguir.PS - Muito se agradece aos leitores que confirmem ou refutem estas indicações, para bem do conhecimento e da memória da nossa cidade.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home