01 maio 2007

A abertura

Tempos houve em que a abertura de uma nova avenida ou alameda era motivo de grande entusiasmo popular. Foi assim, por exemplo, com a Av. Rainha D. Amélia (actual Almirante Reis), como mostram Álvaro Barreto e Maria Filomena Mónica em Retrato de Lisboa Popular 1900. Ou até com a burguesa Av. de Roma, rasgada nas décadas de 40 e 50 do Séc. XX e que tão acentuada decadência tem apresentado nos últimos anos (um problema da Lisboa contemporânea que, algo inexplicavelmente, tem sido pouco abordado pela imprensa e pelos responsáveis políticos).
As avenidas já não são, infelizmente, local de encontro e de passeio mas simplesmente canais de passagem. As culpas são muitas vezes imputadas ao Urbanismo Moderno. Contudo, as causas parecem-me mais sociológicas: o entretenimento electrónico em casa (TV por cabo, DVD, computador, consolas, etc.) tem-se afirmado nos últimos anos com a própria afirmação da sociedade de consumo e, fora de casa, têm-se multiplicado os espaços comerciais e de lazer estudados para atrair as massas. Há também a tão apregoada questão da (in)segurança.
Serve esta introdução para referir que a recente abertura ao trânsito da Alameda do Porto Pinheiro, que liga directamente a EN 250 e a Av. Abreu Lopes às Colinas do Cruzeiro, não parece entusiasmar ninguém para além dos responsáveis autárquicos. São sinais dos tempos incontornáveis.
No entanto, a abertura dessa via tem dois efeitos muito mais importantes que a facilitação da circulação automóvel.
Em primeiro lugar, a Alameda do Porto Pinheiro revela uma cidade de colinas voltada a Sul, plena de luz, enquadrada por uma serra e por algumas manchas verdes no meio das casas a subir a encosta. É uma imagem muito mediterrânica e bem diferente, para melhor, daquela que fica na retina após a descida continuada da Calçada de Carriche. A imagem da Cidade é, pois, reforçada.
Em segundo lugar, essa nova via, ao criar uma variante à circulação pelo Centro Histórico, abre perspectivas para que este último seja devolvido aos peões, como muito boa gente anseia. Basta dar uma saltada ao vizinho centro histórico de Telheiras para se perceber o que se poderia fazer em Odivelas caso se condicionasse o acesso dos automóveis ao Largo D. Dinis e ruas envolventes.

1 Comments:

At 1:32 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Gostaria de conhecer a sua opinião sobre as obras de "requalificação" do Jardim do Largo D. Dinis promovidas pela Junta de Freguesia de Odivelas.

 

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