Finalmente
Tenho por opinião, há já alguns anos, ser o Parque das Nações uma experiência urbanística globalmente semi-falhada ou mesmo falhada. As razões são várias e não me vou alargar muito, não fosse este blogue dedicado a Odivelas – apesar do tema ser de interesse para o odivelense, não estivesse o Parque das Nações a cerca de 10 minutos de carro (pela CRIL).
O problema começa na Zona de Intervenção da Parque Expo que é uma espécie de península, com istmo a Sul, a Linha do Norte a Poente, a foz do Trancão a Norte e o Tejo a Nascente. Ora, colocar num território com essas características equipamentos únicos (Parque do Tejo e Trancão, Oceanário, Pavilhão Atlântico, FIL, agora também um casino), vários arranha-céus de escritórios e de hotéis, um centro comercial e um dormitório bastante denso dificilmente daria bom resultado. Aliás, este último está à vista: atravessar a Av. D. João II ou os acessos à FIL em hora de ponta, em dia de espectáculo e/ou de exposição é um suplício equivalente ou pior ao da Calçada de Carriche em dia de acidente.
Depois existem outros problemas: construir em altura num espaço voltado a Nascente (e particularmente exposto aos ventos dominantes de Noroeste) teria sempre como consequência óbvia a fraca exposição solar a partir do início da tarde. Já alguém reparou como o Parque das Nações é fresco, mesmo de Verão, a partir de meio da tarde? Não é por acaso.
E já não falo na habitação de qualidade sofrível paga a peso de ouro, do cheiro, por vezes insuportável, do Rio na maré baixa e da ETAR, dos insectos, da humidade, do biogás da antiga lixeira de Beirolas, dos escapes dos “street-racers” na Ponte, das ruas desertas (a zona Norte, com excepção da Vila Expo, é uma autêntica cidade fantasma) ou da completa desarticulação com as urbes que já existiam nas redondezas (Moscavide, Sacavém) e que parecem excluídas de uma espécie de Portugal imaginado por uma certa burguesia remediada sempre disponível em demonstrar aquilo que não tem (a começar pela cultura urbanística e urbana).
FINALMENTE alguém teve a coragem de assumir, publicamente, que o Parque das Nações não é aquilo que muitas mentes portuguesas acreditam piamente, quando utilizam a “média nacional” como padrão. Falo de Vasco Pulido Valente, hoje no PÚBLICO ao seu melhor estilo:
“A Expo-98, se é que se lembram, começou como obra de prestígio, que iria assombrar o mundo com o génio do português «modernizado» e novo de Cavaco, e como «recuperação» de Lisboa Oriental. Não assombrou o mundo e não «recuperou» um milímetro da Lisboa Oriental. Como era de prever, produziu uma espécie de «ilha» para um classe média melancólica e um ersatz de parque, meio desértico, que vai servindo à falta de melhor. O próprio Pavilhão de Portugal continua vazio e sem destino. O que, no fim, acabou por encher o vácuo foi o casino do Stanley Ho (...)”.
Lindo!
1 Comments:
aceitar que o plano original da Expo era um bom plano urbanístico e que se algo não resultou foi por culpa da especulação imobiliária e pela necessidade de muitas entidades rentabilizarem os investimentos feitos não fazia mal a ninguém. Dizer que logo à partida aquele espaço foi mal escolhido e que por ser uma espécie de península estava condenado ao fracasso é uma visão tão redutora quanto considerar que não existem soluções para resolver esse problema. A questão não é essa.
Dizer que a Expo foi um exercício falhado de urbanismo é um erro porque aquilo que se passou depois da Expo já não tem nada a ver com a Expo. Chame-lhe o que quiser.
Por fim, não defendendo o desenho das torres nem a sua proliferação, chamar àqueles conjuntos habitacionais de arranha-céus só mesmo neste Portugal que se revolta com 3 torres perto da 25 de Abril por serem grandes demais, só mesmo nesta aldeia de Portugal em que quem arrisca construir em altura é visto como o anti-cristo por não respeitar a lógica de expansão horizontal da cidade. É altura de acordar, arranha-céus? O problema não é serem arranha céus, ou torres ou semi-torres. O problema é o mau desenho.
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