As sobras
O Vereador do Ambiente, Carlos Bodião, anunciou recentemente, através de entrevista ao Jornal de Odivelas (16.03.2006), a construção de um jardim botânico em Famões (Casal de S. Sebastião) e o arranque dos trabalhos de projecto tendo em vista implementar um parque urbano à entrada da Cidade de Odivelas.
Não são más notícias, há que reconhecer. Pelo menos revelam uma mudança de discurso face a um passado ainda na memória de todos.
No entanto, a notícia suscita algumas apreensões. O local escolhido para implementar o Parque Urbano está longe de ser o ideal. Por que “carga de água” irá o odivelense espairecer ao fim-de-semana para o fundo de um vale, cruzado por várias ribeiras malcheirosas (o Vereador, aliás, explica na mesma entrevista), com vista para a suplicante Calçada de Carriche, para os viadutos da CRIL/CREL e do metro, para uma linha de alta tensão de 220 kV e para o insalubre Bairro dos Cágados? Só mesmo se o projecto for “fora de série”. Por outro lado, se é verdade que estamos a falar da entrada da Cidade (um local nobre, por excelência) e da continuação natural da recentemente construída marginal do Rio da Costa (que já conquistou alguns públicos), também é verdade que estamos a falar de uma zona de aluvião, em leito de cheia e, como tal, de alto risco para o dinheiro que lá se pretende enterrar. E, depois, há outros obstáculos, aliás referidos mais recentemente pelo Vice-Presidente Vítor Peixoto (cf. edição de 06.04.2006 do mesmo jornal): “É um projecto que implica procedimentos administrativos relacionados com terrenos privados e do INAG, pelo que se reveste de uma relativa dificuldade”. Ou seja, o Parque Urbano da Cidade será um projecto e não mais do que isso, que pode não chegar a bom porto por depender da vontade de terceiras partes.
Tenho alguma dificuldade em perceber, como cidadão, porque razão o local escolhido para se fazer o dito parque – cuja necessidade o próprio poder político já reconhece – não foi um dos muitos pontos altos de grande interesse paisagístico que (ainda) abençoam o nosso concelho. Vou citar apenas alguns exemplos que teriam sido (ou seriam) bem mais interessantes e arejados.
Na Serra da Amoreira, a Norte do Bairro do Casal dos Apréstimos, está a ser construída mais uma aberrante urbanização (Jardim da Amoreira) sem qualquer respeito por um sítio absolutamente fantástico, com uma vista única, das melhores que existem na AML depois das serras de Sintra e da Arrábida. Que belo parque este sítio daria!
Outro local, não tão magnífico, mas igualmente interessante remete para os terrenos ainda livres a Sul-Poente da Av. das Acácias / Arroja. Parece que também já está condenado para uma nova urbanização de um importante e conhecido construtor do eixo Vila Franca-Loures-Odivelas.
Pois é, parece que temos que nos contentar com as sobras!
3 Comments:
sim, é verdade que acima do casal dos apréstimos está a ser construida uma nova urbanizacao.Sim, daria um belo parque. Mas se for ver com os seus olhos o que lá está a ser realizado, se vir a titulo de exemplo, a praça apenas pedonal que estao a construir, verá que nao é tao mau como aqui apresenta. construcao inteligente é o que chamo ao que ali está a acontecer.
Carla Bernardino.
"Jardim" é a palavra chave para aliciar possíveis clientes. "Jardim da Radial". Qual jardim? Agora "Jardim da Amoreira". Haverá jardim?`
E onde estavam previstos jardins que se "esfumaram", talvez não conviesse a palavra jardim, e vai disto: "cruzeiro" parece uma boa palavra. E aí temos "As Colinas do Cruzeiro". Qual cruzeiro?
Faço minhas as palavras da Carla Bernardino! Consultem a planta e o site da câmara e aguardem pelo que vai ser feito! Por favor, informem-se antes de falarem!
Gonçalo Sousa
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