09 março 2006

Boa vida (III)


A pedido de algumas familias, a saga “Boa vida” regressa. E logo para (começar a) falar de D. João V, o maior freirático de todos os tempos!
D. João V, de cognome o Magnânimo, não brincava em serviço. Reparem que nunca ninguém viu o Arco do Cego em Lisboa. Consta que o mandou deitar a baixo porque era muito estreito para o seu coche passar nas muitas investidas que fazia a Odivelas, para se encontrar com a famosa Madre Paula.
Para o fazer com toda a privacidade e deleite, D. João V mandou construir luxuosos aposentos privados no Mosteiro de Odivelas. Sobre eles nos fala Lord Beckford, citado por Manuel Bernardes Branco (op. cit., pp. 74-75):
“Um individuo da sociedade, velho malicioso, italiano e clerigo, que tinha sahido da sua terra natal antes que o celeberrimo terremoto derribasse pelos alicerces mais de metade de Lisboa, disse-me que se recordava d’um aposento, boa mostra, isto é, adornado de espelhos e cortinas, uma especie de palacio de fadas, que communicava com o covento de freiras d’Odivellas, tão famigerado pelo piedoso retiro d’aquelle exemplar de magnificencia e santidade, o rei D. João V. Deleitosos dias ahi passou o monarcha, e os favorecidos companheiros das suas devoções.
“De que serve a gaiola mais formosa sem passaros que a aviventem? Se tivesseis ouvido a celestial harmonia das reclusas do rei D. João V, nunca vos terieis contentado no vosso primoroso pavilhão com o esganiçamento dos sopranos e os roncos dos rabecões. A suavidade (refiro-me áquelas puras vozes ) sahindo do sagrado asylo recondito, onde não é dado penetrar ente humano masculino, á excepção do monarcha, produzia um effeito de que ainda me lembro extasiado, posto que já lá vão bastantes annos. (...)”.
Louvado seja o santíssimo sacramento!

1 Comments:

At 10:34 da tarde, Blogger Maria Máxima Vaz said...

Tenho pena que todas estas iniciativas tenham ficado sem comentários. Se tivesse havido troca de saberes, muitas "estórias" teriam dado lugar à História. Com a ajuda do Joaquim Baptista acabaram-se as dúvidas sobre a Q.ª de N. S. do Monte do Carmo. Eu sozinha nunca lá teria chegado.Devo-o a este blogue. Obrigada!

 

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