04 março 2006

Dias de tempestade

Dias como o de hoje (e ontem), fartos em precipitação, fazem-me lembrar quando era miúdo, mais ou menos há 20 anos, e fiquei impressionado, para sempre, com as imagens de Cascais transformada em Veneza, com barcos e canais (foi em 1983).
Fazem-me recordar, naturalmente, o dia 8 de Janeiro de 1996, quando o Olival Basto ficou com “água pelas barbas” e meia Lisboa sem luz eléctrica. Lembram-se? Fez agora 10 anos.
Fazem-me também imaginar a grande cheia da noite de 25 para 26 de Novembro de 1967, que matou mais de 300 odivelenses e afectou fundamentalmente o Vale da Ribeira de Odivelas (Urmeira, Silvado, Pombais) e as áreas baixas da Póvoa de Santo Adrião e da Quinta da Várzea (cf. CMO, Cheias de 1967).
E fazem-me ficar apreensivo com os autênticos rios que se formam, em dias de tempestade, ao longo das ruas de Odivelas que descem em direcção às Ribeiras de Odivelas/Caneças e ao Rio da Costa. Vejamos bem as coisas: destes cursos de água até à Serra da Amoreira, o solo está praticamente todo impermeabilizado: Bairro Olaio, Quinta do Mendes, Codivel, Quinta Nova, Casal do Chapim, Ribeirada, Jardim da Radial e, agora, Jardim da Amoreira – já muito perto da cumeada com o mesmo nome. Do outro lado das Ribeiras de Odivelas/Caneças (margem direita), as Patameiras e os Pombais estão a casar-se com a Arroja tendo como “padre” o Porto Pinheiro.
Desta forma, a água chega cada mais depressa ao fundo do grande vale. Ora, a Região de Lisboa é sujeita a grandes cheias periodicamente. Odivelas sempre foi lugar de risco. Aliás, toda esta campina que se estende desde a Paiã em direcção a Loures e a Sacavém já foi um lago noutros tempos geológicos. Mais ano, menos ano, vai acontecer desgraça, e da grossa.
A questão é simples: a bacia de retenção da Ponte da Bica e as demais obras realizadas nos últimos anos pelo Instituto da Água (INAG) serão suficientes para evitar mais mortes e avultados danos materiais em Odivelas, no Olival Basto e na Póvoa de Santo Adrião?