19 novembro 2006

Quinta do Barruncho

Faz hoje precisamente oito anos que a Assembleia da República aprovou por unanimidade a criação do Concelho de Odivelas. Permitam-me os prezados leitores que comemore esta data histórica, que coincide com o feriado municipal, com uma pequena história.
No território do Concelho de Odivelas localizam-se, ainda, algumas quintas, sobretudo nas freguesias de Caneças e Famões. Contudo, só uma é digna de constar da monumental obra Quintas e Palácios nos Arredores de Lisboa, de Anne de Stoop (Porto: Livraria Civilização, 1985). Trata-se da Quinta do Barruncho que fica, algo dissimulada pelo arvoredo do seu frondoso parque, na Póvoa de Santo Adrião.
Revela-nos essa autora que "a quinta hoje conhecida pelo nome de Quinta do Barruncho chamava-se, noutros tempos, Quinta da Granja (da Paradela) ou Quinta da Nossa Senhora do Rosário, a quem tinha sido dedicada a capela. (...) A casa, construída por volta de 1700, teria sido uma comendadoria da Ordem de Malta, o que explicaria o tamanho imponente da capela. (...) A fachada da construção principal, que evoca um pouco o barroco dos países do Norte, é duma grande originalidade. Tendo por centro a capela, é sobrepujada por uma larga empena trabalhada, no cimo da qual fica uma cruz com um campanário de cada lado. No interior, a capela guarda ainda o famoso Senhor do Bom Princípio, magnífico crucifixo contemporâneo da construção do edifício. A arquitectura deste templo majestoso, um pouco austera, foi enriquecida mais tarde, por volta de 1740, com uma decoração de azulejos azuis e brancos de muito boa qualidade. (...) À direita, é ilustrada a célebre batalha de Lepanto onde, em 1571, as forças cristãs, comandadas por D. João de Áustria, esmagaram a frota otomana, ajudadas, entre outros, pelos cavaleiros da Ordem de Malta. (...) A evocação dum acontecimento histórico preciso é relativamente rara nas pinturas sobre azulejo (...)" (p. 53).
Muito mais haveria a dizer sobre a singularidade da Quinta do Barruncho na região de Lisboa. Apenas direi o seguinte: após oito anos de elevação de Odivelas a concelho, a sua mais importante quinta continua a ser servida por um caminho de cabras manhoso que atravessa um bairro de barracas (com o devido respeito para os seus moradores). O que é que têm andado a fazer os nossos autarcas nos últimos anos, que nem conseguem acarinhar o que de melhor o Concelho tem, a começar pelas pessoas e acabando no património histórico? De património histórico recuperado, sinceramente só me lembro da Quinta da Memória...
Parabéns, Odivelas!

4 Comments:

At 10:32 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Políticas à parte: com o actual executivo, de há 1 ano a esta parte, aquilo que tem sido feito na área da habitação social, das pessoas mais desfavorecidas, tem sido algo que nunca se viu em 7 anos desde a criação do concelho. O PER, os realojamentos, a erradicação das barracas em odivelas, a reabilitação de habitação social, a construção de fogos a custos controlados, etc, etc. E vamos lá ver o que ainda se pode fazer nos 3 anos que faltam...
Viva o Cocelho de Odivelas!!!
António Amaro

 
At 10:34 da tarde, Anonymous Anónimo said...

"...Concelho.." e não "...Cocelho..", obviamente....
António Amaro

 
At 1:18 da tarde, Blogger Nuno Barros said...

Caro Pedro, parabéns pelo interessante blog para quem mora nesta zona como eu.

De facto este pequeno e escondido paraíso que dista somente talvez uns 700m do meu prédio sempre pareceu (até para mim que vivo há muito anos de vida minha nesta localidade) inacessível e isolado tal escondido está atrás de fábricas e prédios .

Mas o paradoxo urbanístico encontro-o até mesmo quando abro a janela das traseira como se vê aqui:
http://omeupiupiu.blogspot.com/2006/06/pequenos-parasos.html

 
At 3:32 da tarde, Blogger Maria Máxima Vaz said...

Faço votos para que o Sr. Dr. João Maria Bravo, assim como os seus Herdeiros, nunca tenham a tentação ou a necessidade de venderem um cm2 que seja, dos 18ha de terreno que tem aquela Quinta! É a única quinta que ainda temos, e na posse de uma Família a quem Odivelas deve muito. São os descendentes em linha directa, de António Maria Bravo, fundador da SMO e da 1.ª escola de Odivelas. O 1.º conjunto de instrumentos da banda, foi oferta dele.

 

Enviar um comentário

<< Home