05 março 2007

Afinal havia outra

Nos últimos dois anos, as estatísticas do desemprego registado nos centros de emprego do IEFP - Instituto do Emprego e Formação Profissional (disponíveis em www.iefp.pt) parecem evidenciar uma acentuada descida do desemprego em Portugal. Em particular, o total de desempregados inscritos passou de 479.373 no final de Dezembro de 2005 para 452.651 no final de Dezembro de 2006, ou seja, diminuiu 5,6% no último ano.
Porém, os dados do Inquérito ao Emprego do INE - Instituto Nacional de Estatística recentemente divulgados, relativos aos 4.º Trimestre de 2006 (disponíveis em www.ine.pt), contradizem esta evolução favorável: de cerca de 447 mil desempregados no último trimestre de 2005 passou-se para cerca de 459 mil em igual trimestre de 2006, ou seja, o desemprego aumentou em Portugal 2,5% no último ano. Esta evolução desfavorável da população desempregada reflectiu-se na taxa de desemprego, que passou de 8% para 8,2% entre os dois trimestres em análise. Em termos médios, a taxa de desemprego em 2006 foi de 7,7%, superior em uma décima à registada em 2006 (7,6%).
Adicionalmente, em Janeiro de 2007 (últimos dados disponíveis), os desempregados inscritos nos centros de emprego do IEFP eram 457.634, ou seja, mais 1,1% do que o verificado em Dezembro último.
Como diria a Mónica Sintra, "afinal havia (e há) outra" ... realidade, a pura e dura da economia portuguesa, da asfixia das empresas (o IVA a 21% não ajuda nada), dos trabalhadores (com os bolsos cada vez mais vazios) e daqueles que pretendem trabalhar mas não encontram nada para fazer. E também daqueles que estão sub-aproveitados - como uma interessante reportagem do DN, sobre licenciados a executar tarefas para os quais não foram habilitados nem qualificados e ganhar, por vezes, o salário mínimo, evidenciava há umas semanas.
Numa investigação sobre desemprego em meio urbano que estou presentemente a coordenar (financiada pelo POEFDS) parece já claro, na actual fase intermédia dos trabalhos, que o problema do desemprego no Portugal contemporâneo já não tem só haver com o Alentejo e a Península de Setúbal, como muita boa gente ainda pensa. Está em afirmação, nomeadamente nas periferias de Lisboa e Porto, uma nova classe de desempregados, por vezes com elevados níveis de habilitação, que oscila permanentemente entre os estados de emprego e desemprego ou que, pura e simplesmente, é posta de parte pelo mercado de trabalho, mesmo em plena idade activa.
Um dos resultados mais preocupantes já apurados por essa investigação remete para o cavamento das assimetrias entre concelhos da Área Metropolitana de Lisboa (AML) em termos de incidência do desemprego por concelho (medida através do rácio entre o desemprego registado pelo IEFP e a população activa) que se tem observado nos últimos anos (2001-2005). Ou seja, é sobretudo nos concelhos onde já havia mais desemprego que o fenómeno se tem vindo a acentuar recentemente, enquanto que nos concelhos tradicionalmente com menos desemprego este último não tem aumentado de forma tão significativa. Dito de outra forma: a crise tem atacado, em matéria de desemprego, sobretudo os concelhos mais debilitados económica e socialmente.
Odivelas, apesar de tudo, continua a apresentar uma situação favorável no contexto metropolitano em termos de incidência do desemprego: em 2005, os desempregados residentes em Odivelas inscritos em centros de emprego do IEFP correspondiam a 6,1% da respectiva população activa (empregados + desempregados). Essa percentagem era a segunda mais baixa da AML: só Mafra tinha uma taxa inferior (5,4%). Talvez a importância do auto-emprego e dos pequenos empresários explique esta boa performance do Concelho.
Os últimos dados conhecidos (Janeiro de 2007) apontam para 4.337 residentes em Odivelas registados nos centros de emprego como desempregados, mais 80 do que os registados em Dezembro de 2006. Esse valor corresponde a 5,3% dos cerca de 82 mil activos que se pensa residirem em Odivelas (de acordo com o estimado pelo CIDEC tendo como fonte as estimativas intercensitárias da população residente do INE e a taxa de actividade observada nos Censos de 2001). A maior parte dos desempregados odivelenses são homens (51%), com 35 e mais anos (66%) e procuram um novo emprego (96% dos casos). O desemprego de longa duração (um ano ou mais) abarca 39% dos inscritos. Os licenciados têm alguma importância entre os desempregados do Concelho (9%) apesar de serem preponderantes as pessoas com o 1.ª Ciclo do Ensino Básico (antiga 4.ª Classe) ou com habilitação inferior (35% dos casos).

1 Comments:

At 3:39 da tarde, Blogger sa.ra said...

olá!

não fazia ideia deste link!

o desemprego está a gerar mudanças, algumas positivas!
(parece uma estupidez dizer isto, mas sinto que é verdade!)

importa que as pessoas pensem como devem empregar o seu tempo: a fazer o quê? a criar o quê? a realizarem-se de que forma? a aprenderem o quê?

A saída do mercado de trabalho instiga a necessidade de responder a estas questões, a investigar e investir em soluções!
São tempos, circunstâncias, obstáculos que obrigam à reflexão e que obrigam benéficos exercícios de criatividade!
Experimentei o que acabei de escrever... é a minha experiência e de algumas pessoas que conheço!

beijinhos
dia mt feliz

 

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