06 junho 2006

Toiros, Fados e Patuscadas

Ao contrário do que alguma imprensa “tuga” fez crêr ao povo, a Praça de Toiros do Campo Pequeno não foi inaugurada há cerca de 15 dias mas no longínquo ano de 1892. Vai fazer no dia 18 de Agosto precisamente 114 anos!
A tradição das touradas em Lisboa é, aliás, muito antiga. Antes da construção da “Monumental”, as corridas realizavam-se no Campo de Sant’Ana, em praça localizada sensivelmente onde está hoje a Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa. Foi assim de 1831 a 1877.
Nesses tempos longínquos, os toiros eram conduzidos, em grande festa, até à Praça de Sant’Ana por ruas e azinhagas vindos dos nossos lados. Assim nos conta o ilustre olissipógrafo Appio Sottomayor (Lisboa D’Outros Tempos, A Capital / IMPREOPA, p. 70):
“Vindos de terras saloias, os toiros eram recebidos, no próprio dia da corrida ou na véspera, à entrada da Calçada de Carriche por uma verdadeira chusma de cavaleiros e tipóias. Daí seguia o desfile pela Estrada do Lumiar (actual Alameda das Linhas de Torres), Campo Grande e Campo Pequeno; passando pelas imediações do Palácio das Galveias (que lá continua); entrava na estrada do Arco do Cego e daí seguia pela calçada e rua de Arroios até Santa Bárbara, subindo pelo Paço da Rainha até ao Campo de Sant’Ana. Ao longo de todo o percurso o espectáculo era ruidoso e colorido (...)”.
“O grande negócio das entradas de toiros na cidade cabia, porém, aos retiros e demais sítios onde se pestiscava bem e bebia melhor. Muitos fidalgos e populares perdiam a noite, aguardando o momento da passagem dos animais para se incorporarem no cortejo. Era então boa ocasião para a bela comezaina e o excelente fado. As guitarras gemiam e as gargantas dessedentavam-se. De Carriche ao Arco do Cego não faltava onde: os retiros de Nova Sintra, da Patusca, do Colete Encarnado, do António da Joana ... Ainda resta bem vivo o Quebra-Bilhas, no Campo Grande (...)”.
Que pena ter-se perdido para os lados de Odivelas esta tradição taurina que já há alguns anos se tentou reabilitar. Permanece, contudo, a tradição dos petiscos e existem alguns esforços, quer públicos quer privados, para que não morra a do fado.
Carriche, apesar do trânsito, lá vai mantendo alguma rusticidade de outros tempos. Quantos lugares se podem gabar de, a cerca de 100 metros de Lisboa, possuírem uma casa (Coelho Pereira) que exibe, orgulhosamente, motocultivadoras – numa clara “afronta” aos valores urbanos dominantes?

2 Comments:

At 5:54 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Toiros: Inaugurações em Lisboa

Praça de Touros do Campo de Sant'Ana - 31 de Julho de 1831;

Praça de Touros do Campo Pequeno - 18 de Agosto de 1892.

Por cortesia de

O Cornudo

 
At 4:51 da manhã, Blogger LMC said...

Conheci o seu blogue hoje.. Alguns meses depois da re-abertura da Monumental do Campo Pequeno. A praça rainha do toureio a cavalo.. Deu-me impressão que ou gosta, ou não lhe incomoda e até acha piada..

passe por:
http://www.osmarialvas.blogspot.com

bom trabalho.

 

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