16 setembro 2007

A cidade neo-barroca (II)

A urbanização “Jardim da Radial” é, porventura, a primeira grande operação urbanística no Concelho de Odivelas que podemos classificar como neo-barroca, cujo início da construção remonta à segunda metade da década de 90. Localiza-se na Freguesia da Ramada, junto ao limite Norte da Cidade de Odivelas, sendo servida de forma directa por um nó do IC 22, o que a torna, de alguma forma, uma “Edge City” (Silva, Elisabete A., 2002, “Cenários de Expansão Urbana na Área Metropolitana de Lisboa”, Revista de Estudos Regionais – Lisboa e Vale do Tejo, 2.º Semestre, Lisboa, INE).

O relevo do sítio é particularmente movimentado, caracterizando-se por encostas próximas da cumeada da Serra da Amoreira com pendente acentuada, que dificultam a locomoção a pé. Não obstante, o desenho urbano adoptado no “Jardim da Radial” privilegiou a vida de rua, sendo estruturado por um conjunto de avenidas tipicamente interceptadas por outras avenidas ou ruas através de rotundas ajardinadas.

Em particular, a sua principal avenida (Liberdade), onde se localiza grande parte do comércio de bairro, é particularmente difícil de vencer a pé. Essa avenida possui uma orientação NW-SE que, dada a altimetria do local, possibilita, a quem a desce, uma vista magnífica sobre Lisboa e as serras da Península de Setúbal. Sensivelmente a meio da Avenida foi colocada uma rotunda com fonte luminosa (Tito de Morais) da qual parte, em entroncamento, uma rua (Manuel de Arriaga) que conduz, por sua vez, a outra rotunda ajardinada (Francisco Sá Carneiro) através da qual se acede à urbanização via IC 22. No enfiamento da Rua Manuel de Arriaga, junto à Rotunda Francisco Sá Carneiro, foi implementada uma igreja.

Quem se desloca, nomeadamente de automóvel, ao longo deste sistema de vias e rotundas tem uma experiência estética bem próxima daquela que caracteriza a cidade barroca, dados os elementos de interesse (rotundas, igrejas, fontes luminosas, serras) colocados estrategicamente nos pontos focais das vias de circulação. O jogo das perspectivas foi claramente privilegiado face aos aspectos funcionais: o sistema viário IC 22 – Rotunda Francisco Sá Carneiro – Rua Manuel de Arriaga – Av. da Liberdade não é apenas o elemento estruturante de uma urbanização, é também o principal acesso Norte à Cidade de Odivelas. Desta forma, por questões estéticas e de imagem da cidade, o tráfego automóvel de passagem é misturado voluntariamente com o tráfego local, com consequências nefastas em termos de congestionamento de tráfego e de segurança para os peões.

É importante notar que a citada Av. da Liberdade não é apenas um local de concentração de comércio mas também a via de acesso aos equipamentos escolares públicos que servem a zona Norte de Odivelas (Escola Básica dos 2.º e 3.º Ciclos e Escola Secundária), sendo grande o risco de atropelamento de crianças e jovens também devido à acentuada pendente da Avenida, apesar dos esforços desenvolvidos pela Junta de Freguesia da Ramada (semáforos de controlo de velocidade e painéis informativos de zona escolar).

Apesar do seu nome sugerir o contrário, o “Jardim da Radial” não tem qualquer ponto de contacto com a cidade imaginada por Ebenezer Howard. De facto, ao longo de uma estrutura viária muito tradicional, foram implementadas bandas e torres, por vezes com 12 andares. Nem sequer se recorre ao quarteirão, elemento morfológico caro à “cidade tradicional”: as bandas e as torres são dispostas continuamente ao longo das ruas corredor, sem logradouros, numa estratégia clara de maximização dos lotes.

Os espaços verdes são eminentemente cénicos, limitando-se fundamentalmente às rotundas e a algumas zonas intersticiais entre os lotes, apesar de existirem dois pequenos jardins de fruência particularmente agradável (o sistema de vistas para isso muito contribui), dotados de equipamento lúdico infantil.

1 Comments:

At 8:44 da tarde, Blogger Maria Máxima Vaz said...

Quem vai atrás do fogo de artifício, só vê onde está, depois de se extinguir. Espero que haja transportes que lhes resolvam os problemas, a partir dos 50 anos.

 

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