21 agosto 2007

Ainda em torno do Centro Histórico

Alguns prezados leitores têm-me pedido para que volte a tecer algumas considerações em torno do Centro Histórico de Odivelas. Sob pena de repetir argumentos já aqui avançados em Fevereiro último, vou tentar transmitir aquilo que penso sobre tão interessante assunto, de forma, espero, mais clara e acertiva.
Na Grande Lisboa, ou seja, na parte norte da Área Metropolitana de Lisboa existem 10 cidades. A saber, tratam-se dos seguintes povoados, por ordem decrescente de dimensão populacional (dados para 2001): Lisboa (560 mil habitantes), Amadora (176 mil), Agualva-Cacém (82 mil), Queluz (78 mil), Odivelas (51 mil), Alverca do Ribatejo (28 mil), Póvoa de Santa Iria (24 mil), Sacavém (18 mil), Vila Franca de Xira (17 mil) e Loures (16 mil). Existem ainda algumas vilas que poderiam ser cidades mas que por razões históricas (Sintra) ou por um estranho "mix" de snobismo e espírito anti-urbano recusam essa classificação (Oeiras e Cascais).
Desta forma, Odivelas é a quinta cidade mais populosa da Grande Lisboa, caracterizando-se também por pertencer ao restrito subconjunto de cidades da AML Norte com mais de 50 mil habitantes, que são apenas cinco (notar que Alverca, a sexta cidade mais populosa, tem sensivelmente metade dos habitantes de Odivelas).
Ora, de todas estas cidades, só Lisboa, Queluz e Odivelas possuem centros históricos com património classificado de grande interesse. Se Lisboa é um caso à parte, Queluz não é - os leitores perdoem-me a sinceridade - comparável a Odivelas. De facto, o Palácio Nacional de Queluz, não lhe tirando mérito (gosto muito da escadaria Robillon!), não passa de uma pobre e triste imitação do maior palácio da Europa (Versalhes), sinal da pequenez e da parolice do nosso país, ainda por cima construído seguindo um estilo arquitectónico do barroco tardio, por sinal de gosto bem duvidoso: o Rococó. O Mosteiro de Odivelas, mesmo tendo sido muito castigado pelo grande terramoto de 1755, carrega um passado único, tem um monarca sepultado (D. Dinis) e a respectiva rainha (ainda por cima, santa) e é só (cerca) de 500 anos mais velhinho que o citado palácio nacional (foi fundado em 1295, enquanto que Queluz é datado de finais do Século XVIII).
Desta forma, tudo o que se faça no Centro Histórico de Odivelas tem que honrar este legado do passado, tem que o glorificar, tem que conferir a Odivelas a posição que lhe pertence desde tempos bem remotos.
Odivelas não é um sítio qualquer - basta dar um pequeno exemplo: o Palácio do Correio-Mor, o mais importante do Concelho de Loures e um dos mais emblemáticos dos arredores de Lisboa (e do País), foi construído em antigas terras das monjas de Odivelas. Os seus domínios foram, aliás, dos mais ricos que se conheceram no antigo Termo de Lisboa.
O que está em causa no Centro Histórico de Odivelas não é, do meu ponto de vista, um problema só de dinheiro. Bem sei que existe um importante vazio urbano que importa requalificar, entre os Paços do Concelho e o novo Centro de Exposições (o Dr. Varges tinha um projecto de uma grande praça urbana para esse espaço, para ser pago pelo PROQUAL mas que tarda em avançar). Mas há muitas outras coisas que se podem fazer, que exigem mais trabalho do que dinheiro. Vou só dar alguns exemplos, sem propósitos de exaustividade:
1. O Mosteiro de S. Dinis permanece muito fechado sobre si próprio, é quase impenetrável. Era fundamental trabalhar com o Instituto de Odivelas no sentido de permitir a sua visitação pelo público em geral;
2. Esse mosteiro bem como o largo fronteiro (de D. Dinis) são locais muito interessantes para a realização de eventos culturais, como concertos de música erudita ou saraus de poesia; porque será que não são melhor aproveitados nesse sentido?
3. Odivelas tem, um pouco como a Amadora, algo fantástico, que se está a perder, infelizmente, nas cidades portuguesas: vida de rua. Ora, é fundamental "encaminhar" essa vida que ainda existe para o Centro Histórico. Para tal, parece-me essencial limitar, ou mesmo vedar, o uso do automóvel nessa zona antiga. Tal poderia motivar o surgimento de cafés, de esplanadas, de iniciativas culturais bem como a animação do comércio tradicional. Ora, a nova Alameda do Porto Pinheiro cria, de alguma forma, uma variante ao Centro Histórico, faltando, porventura, apenas uma boa ligação das Colinas do Cruzeiro aos Pombais. Mesmo que não se consiga a curto prazo vedar o acesso dos carros ao Centro Histórico, por que não fazê-lo, por exemplo, aos Domingos (como no Terreiro do Paço)?
4. É fundamental cuidar dos espaços verdes existentes. Foi dado um bom exemplo nesse sentido recentemente: o jardim dos Paços do Concelho foi arranjado com pouco dinheiro, muita imaginação e ... recorrendo a blocos de basalto provenientes da enigmática Islândia (ver foto). E esta, hem!

3 Comments:

At 10:25 da tarde, Blogger Miguel X said...

Caro Pedro,
Vejo que continua com o seu blog muito activo, algo que eu por razões profissionais não consegui fazer nos últimos tempos.
Gostei deste seu post e estou perfeitamente de acordo com a ideia de reabilitar o centro histórico da cidade. Realço ainda a Igreja de Odivelas cujo o seu interior é riquissimo e os Jardins do Mosteiro. Faço só uma pequena correcção a Rinha Stª Isabel não está lá, está em Coimbra, penso que no Convento ou Mosteiro de Stª Clara.
Aproveito para lhe lançar o repto de aparecer e intervir nas tertúlias (Informalidades)que estão a acontecer na Malaposta de 15 em 15 dias.

Um abraço,
Miguel Xara

 
At 11:56 da manhã, Blogger Maria Máxima Vaz said...

Parece-me que todas as peças de cantaria, antigas, resultantes das obras nos Paços do Concelho tais como, fustes de colunas, bases, capitéis, caleiras, etc., dispersas sem nexo nem critério pelas rotundas, deveriam ser utilizadas na decoração dos espaços envolventes das antigas casas.... serão inconciliáveis?....
Insistirei sempre que nada me perece pior que a ferrugem a escorrer, todos os Invernos, pelas paredes.

 
At 12:09 da tarde, Blogger Maria Máxima Vaz said...

Acudam aquele magnífico Património!!! Não bastavam os "grafitis" dos vândalos que estão a degradar a galilé que proteje a entrada na igreja do mosteiro e a usá-la como "sanitários", agora "atiraram-se às bonitas peças metálicas" que, além de unirem e darem segurança às boas madeiras das belíssimas portas junto à "roda", também são elementos decorativos.
Por favor passem por lá e vejam quantas dessas peças já lá faltam!
Proponho que nos encontremos lá numa tarde, para definirmos estratégias de defesa. Apontem uma data.

 

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