Um concelho sem rumo? (I)
No interessante blogue Um Rumo, Miguel Xara-Brasil tem vindo a defender a tese de que a CMO não teve, nem tem, uma estratégia para o desenvolvimento do Concelho de Odivelas.
Penso, sinceramente, que tal não corresponde inteiramente à verdade. De facto, desde o tempo do Dr. Varges que existe um rumo muito claro implícito, nomeadamente, nas políticas urbanísticas: transformar Odivelas num subúrbio de quadros médios e superiores - talvez seguindo o exemplo do que a Amadora fez com Alfragide ou Sintra com Massamá, também conhecida como a "Cascais da Linha de Sintra". Sinal indiscutível desse rumo é qualidade arquitectónica e de construção acima da média que as novas urbanizações tipicamente apresentam (nomeadamente, as Colinas do Cruzeiro, em Porto Pinheiro, e o Amorosa Place, também conhecido como "Mar da Califórnia") ou a aposta na construção de um centro cultural - um tipo de equipamento orientado para um público muito específico e letrado.
Esta estratégia, implícita nas políticas municipais, faz algum sentido, por várias razões.
Em primeiro lugar, a produção de habitação nova em Lisboa dirigida à classe média alta tem vindo a apresentar nos últimos anos algumas contigências importantes. Telheiras, que foi durante vários anos o destino de excelência dos quadros jovens, já está praticamente urbanizada na íntegra e apresenta alguns problemas de segurança devido à proximidade de bairros problemáticos. O Parque das Nações é, como já aqui se defendeu (cf. Finalmente), cada vez mais o "Parque das Ilusões", um local onde a habitação nem sempre vale aquilo que custa, a "Reboleira dos ricos" - de acordo com alguma má língua nacional. Sobra a Alta de Lisboa, que tem um grande problema: não era a Musgueira um dos bairros mais perigosos da Região de Lisboa (e do País), onde a Polícia nem sequer ousava entrar? E não informa a imprensa, com alguma frequência, a ocorrência de tiros para aqueles lados?
Ora, Odivelas, na sua mediania, tem várias potencialidades não menosprezáveis. Para além de solo livre para urbanizar (actualmente, sobretudo em Famões), não foi um espaço tão castigado em termos urbanos nas últimas décadas como a Amadora, Agualva-Cacém, Queluz, Tapada das Mercês, Santo António dos Cavaleiros (parte alta) e outros locais similares da periferia mais próxima de Lisboa. Talvez devido à existência de um importante monumento nacional (o Mosteiro de S. Dinis), nota-se que na Cidade de Odivelas - sobretudo na sua zona mais central - sempre houve algum cuidado por parte do urbanizador (veja-se, por exemplo, a Quinta do Mendes), nomeadamente quando se compara esta cidade com casos como os acima mencionados.
Uma das facetas dessa posição relativamente favorável no contexto suburbano lisboeta é a existência de alguma "paz social". Em particular, Odivelas não consta do mapa dos bairros considerados como os mais problemáticos da região de Lisboa, algo que Lisboa, Cascais, Oeiras e Loures, para além da massacrada Amadora, não se podem gabar.
Paralelamente, Odivelas tem ainda importantes vantagens locativas: para além da proximidade óbvia a Lisboa, é relativamente bem servida de transportes públicos (o factor Metropolitano) e de importantes eixos viários (CRIL, CREL, A8), que permitem ao odivelense colocar-se em qualquer lado com facilidade. As conclusões da CRIL e do IC16, recentemente anunciadas pelo Governo, vão acentuar a centralidade de Odivelas, colocanda-a a 15-20 minutos de Belém e de Sintra - o que não é mau para quem já está a menos de 5 minutos de Lisboa, a 10 minutos do Parque das Nações e a 15 minutos da Linha de Cascais. Ou seja, os principais locais de lazer dos lisboetas metropolitanos da Margem Norte vão ficar todos a menos de 20 minutos num futuro próximo. E já não falo do Oeste, que "está mesmo aqui ao lado".
Odivelas tem ainda algumas características biofísicas muito interessantes, como uma exposição solar e aos ventos dominantes de NW favorável, uma serra apaixonante (Amoreira), um pinhal e uma várzea únicas no contexto metropolitano (Paiã), uma terra (ainda) bonita que se chama Caneças, ribeiras, colinas, vistas. E uma história rica e fidalga. Quantas terras da região de Lisboa (e do País) se podem gabar de ter um monarca sepultado, e logo D. Dinis!
Em segundo lugar, a aposta em habitação dirigida a quadros tem ainda uma importante vantagem (para além das receitas autárquicas...): permite contrabalançar a matriz social dominante no território e pode ajudar a melhorar a imagem que o Concelho emite para o exterior, que, como se sabe, não é famosa. E já está a refrescar o Concelho em termos geracionais (a importância da atracção e da fixação de casais jovens com filhos) e em termos de poder de compra, com benefícios óbvios para o comércio local. Só para se ter uma ideia da importância das novas urbanizações, a Cidade de Odivelas tinha, em 2001, sensivelmente 50 mil habitantes; ora, só na Urbanização da Quinta do Porto Pinheiro vão viver seguramente mais de 10 mil pessoas, dados os seus 4127 fogos (cf. Ferreira, J. R., Obriverca 20 anos, Caleidoscópio, Casal de Cambra, Junho de 2005)! O impacto social, económico e político não será, seguramente, pequeno.
O problema não está nesta estratégia, que me parece acertada e que está, aliás, a ser prosseguida por todos os concelhos da primeira cintura de suburbanização de Lisboa (Amadora, Loures, Vila Franca, Oeiras), com uma ocupação desenfreada de todos os espaços urbanos intersticiais ainda existentes. O problema está na forma como essa estratégia tem vindo a ser implementada em Odivelas.
De facto, construir cidade para "doutores e engenheiros" não é bem a mesma coisa do que fazê-lo para a "rapariguinha do shopping" - relembrando uma canção antiga de Rui Veloso. Quem investe 50, 60 ou 70 mil contos numa habitação permanente quer espaços urbanos cuidados, quer jardins e parques infantis, quer segurança, quer ruas limpas, quer equipamentos de qualidade. E não quer, acho eu, postes de alta tensão em cima da cabeça. É esse salto qualitativo que, sinceramente, acho que ainda não foi dado. Ou, então, o salto tem sido maior do que a perna.
(Continua)
6 Comments:
Concelho com rumo ou sem rumo? Penso muitas vezes nesta questão e não encontro a resposta, no entanto tenho a certeza que a Ramada foi riscada do mapa.
Caro Pedro Fernandes,
Em promeiro lugar quero agradecer aforma simpática como fala do meu blog, oqual infelizmente por falta de tempo tem estado um pouco parado.
Por vezes tb. venho espreitar o seu e tenho pena que não haja um blog de referencia no concelho, talvez um dia. Quando tiver com m ais tempo, para avançar com um projecto mais interessante tentarei contactá-lo.
Tb. me parece que o a C.M.O. quer o concelho seja orientado para um dormitorio, mas da forma que o está afazer só pode ser para uma classe social média e média-baixa, o que de facto não me agrada, mas para mim o problema não é esse, o problema é que não assume estratégia nenhuma e por isso anda sem rumo. Tb. lhe digo que habitação por vender em Lx. para classe média-alta é o que não falta.
Parabéns pelo Blog.
Caro Pedro Fernandes, se possível agradecia que colocasse um link do meu blog, irei fazer o mesmo no meu blog.
Os meus parabéns, tem um blog muito interessante e importante para Odivelas.
http://colinascruzeiro.blogspot.com
Boa tarde,
Pretendo apenas rectificar uma informação, a urbanização conhecida como Mar da California, é em Sesimbra e não o Amorosa Place, como consta no texto.
Obrigado,
Miguel Pereira.
O Amorosa Place não é um "Condomínio Privado". É um "Pseudo-condomínio" com aspirações,"povoado" de "novo-riquismo balofo e criminoso",convencidos de poder económico e opulência à custa de corrupção e usurpação de "aquém e além mar".
Parem para pensar,reflectir,constatar e AGIR.
Os "povoadores dormitantes" do Amorosa Place estão a usurpar o espaço público dos munícipes(via e envolvente)colocando "pinos" para evitar o estacionamento público de quem necessita e quebrando e destruindo os limpa pára-brisas dos automóveis de quem se atreva a estacionar.
O objectivo é transformar as casas adquiridas (sabe-se bem como e por quem) em..."PSEUDO-CONDOMÍNIO PRIVADO" para os "NOVOS RICOS" CORRUPTOS.
Alguém permite tal ILEGALIDADE.
O dinheiro,mesmo sujo,tudo permite.
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