24 abril 2006

Enterrem os cabos! (III)

O mais dedicado admirador deste blogue – o poeta Capitão Rabo de Peixe, mentor do blogue anti: ODIVELASURBE – teve a meritória e feliz ideia de lançar os Prémios anti: ODIVELASURBE.
Vamos hoje iniciar um périplo pelos postes de alta tensão desta terra que se afiguram como os mais fortes candidatos a tão cobiçado prémio.
A foto mostra um poste de “baixa estatura”, i.e., do tipo “voo rasante”, que dista apenas 10 a 15 metros do prédio mais próximo. O curioso é que nesse prédio existe um jardim infantil / creche / ATL, estando, por isso, as crianças expostas ao risco acrescido de virem a sofrer leucemia e outras doenças cancerígenas. Fica na Codivel, para quem não conhece. É, sem dúvida, um forte candidato ao citado prémio.
Continuem a apoiar a iniciativa “Enterrem os cabos!”, que a malta agradece.

22 abril 2006

"Não é o país onde gostaria de viver"



"Todos nós temos esperanças em relação ao país onde nascemos, temos fé - palavras complicadas. De repente olhei para mim, olhei para o meu país e pensei: «Não é o país onde gostaria de viver». Não tenho o mínimo de nacionalismo e sou contra os nacionalismos. Mas o que é que junta as pessoas de um país? É o país ou, como se diz no filme, são as memórias de um país? O que é que faz sentirmos uma identidade com outras pessoas? Acho que neste momento muitos de nós estão sem sentir identidade com as pessoas com quem coabitam. E isso obriga a uma ginástica diária. Isso vê-se na TV e nos jornais. Se eu sair deste café posso apontar-lhe e dizer-lhe: «Estou farto de ver carros em cima do passeio. Estou farto de não conseguir atravessar as ruas normalmente». Estou farto. Isso diz respeito a todos nós. E há que começar a discutir isso."

Daniel Blaufuks, fotógrafo, entrevistado por Vasco Câmara (Revista Y, 21 de Abril de 2006), a propósito do seu novo filme "Um Pouco Mais Pequeno que o Indiana", a estrear no próximo dia 25 de Abril, o Dia da Liberdade, no Fórum Lisboa (ex-Cinema Roma), no âmbito do Festival de Cinema Independente de Lisboa (INDIE LISBOA 2006).

Também nós estamos fartos!!!

21 abril 2006

Finalmente

Tenho por opinião, há já alguns anos, ser o Parque das Nações uma experiência urbanística globalmente semi-falhada ou mesmo falhada. As razões são várias e não me vou alargar muito, não fosse este blogue dedicado a Odivelas – apesar do tema ser de interesse para o odivelense, não estivesse o Parque das Nações a cerca de 10 minutos de carro (pela CRIL).
O problema começa na Zona de Intervenção da Parque Expo que é uma espécie de península, com istmo a Sul, a Linha do Norte a Poente, a foz do Trancão a Norte e o Tejo a Nascente. Ora, colocar num território com essas características equipamentos únicos (Parque do Tejo e Trancão, Oceanário, Pavilhão Atlântico, FIL, agora também um casino), vários arranha-céus de escritórios e de hotéis, um centro comercial e um dormitório bastante denso dificilmente daria bom resultado. Aliás, este último está à vista: atravessar a Av. D. João II ou os acessos à FIL em hora de ponta, em dia de espectáculo e/ou de exposição é um suplício equivalente ou pior ao da Calçada de Carriche em dia de acidente.
Depois existem outros problemas: construir em altura num espaço voltado a Nascente (e particularmente exposto aos ventos dominantes de Noroeste) teria sempre como consequência óbvia a fraca exposição solar a partir do início da tarde. Já alguém reparou como o Parque das Nações é fresco, mesmo de Verão, a partir de meio da tarde? Não é por acaso.
E já não falo na habitação de qualidade sofrível paga a peso de ouro, do cheiro, por vezes insuportável, do Rio na maré baixa e da ETAR, dos insectos, da humidade, do biogás da antiga lixeira de Beirolas, dos escapes dos “street-racers” na Ponte, das ruas desertas (a zona Norte, com excepção da Vila Expo, é uma autêntica cidade fantasma) ou da completa desarticulação com as urbes que já existiam nas redondezas (Moscavide, Sacavém) e que parecem excluídas de uma espécie de Portugal imaginado por uma certa burguesia remediada sempre disponível em demonstrar aquilo que não tem (a começar pela cultura urbanística e urbana).
FINALMENTE alguém teve a coragem de assumir, publicamente, que o Parque das Nações não é aquilo que muitas mentes portuguesas acreditam piamente, quando utilizam a “média nacional” como padrão. Falo de Vasco Pulido Valente, hoje no PÚBLICO ao seu melhor estilo:
“A Expo-98, se é que se lembram, começou como obra de prestígio, que iria assombrar o mundo com o génio do português «modernizado» e novo de Cavaco, e como «recuperação» de Lisboa Oriental. Não assombrou o mundo e não «recuperou» um milímetro da Lisboa Oriental. Como era de prever, produziu uma espécie de «ilha» para um classe média melancólica e um ersatz de parque, meio desértico, que vai servindo à falta de melhor. O próprio Pavilhão de Portugal continua vazio e sem destino. O que, no fim, acabou por encher o vácuo foi o casino do Stanley Ho (...)”.
Lindo!

19 abril 2006

Que bom que é construir na encosta (III)


Eis um bom exemplo de como o declive, de preferência nas margens de uma antiga linha de água (entretanto enterrada), tanto jeito faz ao urbanizador e ao construtor. Com três pisos não enterrados abaixo da cota de soleira, estes prédios recentes na Quinta Nova (confrontação das ruas Alves Redol e Alfredo Roque Gameiro e do Largo Elina Guimarães) sempre ganharam mais umas lojas, pouparam espaço em rampas de acesso às garagens e, sobretudo, ficaram com a “aparência” de pesados blocos de “10 pisos” quando, do ponto de vista formal, só têm 6 andares. E esta, hem!

17 abril 2006

Peri-urbe


No decurso da minha actividade profissional, tenho tido o privilégio de participar em animadas tertúlias em torno do fascinante tema do desenvolvimento rural. Nesses debates, em geral estamos todos de acordo sobre a importância dos espaços peri-urbanos, ou seja, dos territórios que ficam na transição entre a cidade e o campo.
As suas vantagens são inúmeras: possibilitam o abastecimento das cidades com produtos hortícolas frescos, contribuem para o equilíbrio dos ecossistemas (com especial importância para os ciclos da água e do carbono), são educativos para “miúdos e graúdos” (que podem aprender in loco noções básicas de agricultura e pecuária ou, simplesmente, “de onde vêm as alfaces”), amenizam a tensão habitual das cidades, relativizam os problemas do dia-a-dia.
Possibilitam encontros imediatos com rebanhos (ver foto) ou com aves de rapina. Em Odivelas é possível observar, por exemplo, peneireiros a caçar junto ao Olival Basto / CRIL ou no vale da Ribeira de Caneças - tema tão interessante que merecerá alguns “posts” dedidados.
Os espaços peri-urbanos possibilitam também longos passeios no campo com uma naturalidade que não é possível, por exemplo, a quem vive na Av. de Roma ou em Telheiras. O leitor já experimentou ir de Odivelas a Negrais ou a Loures passando por Caneças, Camarões e Aruil? Se não, experimente. Vai ver que não se arrepende. A Cidade ficará bem lá para trás!

14 abril 2006

Belém


Em plena quadra pascal, falemos de Belém. Não do lugar onde Ele nasceu, mas da nossa Belém. Aquela que continua charmosa com o passar dos anos e a cativar muitos lisboetas metropolitanos como lugar preferido de lazer, com o Parque das Nações a roer-se de inveja (apesar de se esforçar).
Belém já foi sede de município, entre 1852 e 1886. Desses tempos, seguramente mais bucólicos por estas paragens, restou uma placa, junto ao chafariz que fica mesmo em frente à Biblioteca Municipal D. Dinis (ver foto). De facto, Odivelas pertencia a um concelho cuja obra póstuma revela como a sociedade portuguesa regrediu nos últimos 150 anos: a obra autárquica do antigamente era um chafariz, simbolo da dávida às populações do bem mais essencial de todos; hoje são vias de comunicação, urbanizações e fontes/rotundas cibernéticas.
Desses tempos parecem ter ficado os pastéis de nata, dado que é possível adquirir no Concelho de Odivelas exemplares dessa especialidade da doçaria portuguesa tão bons ou melhores do que aqueles que se fabricam em Belém.
Estariamos todos melhores se Belém ainda fosse a nossa sede de concelho? É bem provável.

13 abril 2006

Grande verdade

Grande verdade diz, hoje no PÚBLICO, o historiador José Pacheco Pereira:
“(...) a agenda da economia, no sentido lato da “economia política”, não é a dos jornais económicos, como pensam os yuppies socialistas e sociais-democratas. Falta nessa agenda muita coisa que não pode ser ignorada na acção política: o mundo do trabalho, o mundo das micro-empresas, a agricultura, o novo tecido social gerado pelas mudanças económicas, desde o impacte do desemprego nas expectativas de vida, as novas formas de conflitualidade social, até aos problemas gerados pela emigração, a que fechamos muitas vezes os olhos”.
É sobretudo nos subúrbios das grandes cidades, em locais como Odivelas, que esta forma de ver as coisas, tão realista, mais encontra sentido.

10 abril 2006

As sobras

O Vereador do Ambiente, Carlos Bodião, anunciou recentemente, através de entrevista ao Jornal de Odivelas (16.03.2006), a construção de um jardim botânico em Famões (Casal de S. Sebastião) e o arranque dos trabalhos de projecto tendo em vista implementar um parque urbano à entrada da Cidade de Odivelas.
Não são más notícias, há que reconhecer. Pelo menos revelam uma mudança de discurso face a um passado ainda na memória de todos.
No entanto, a notícia suscita algumas apreensões. O local escolhido para implementar o Parque Urbano está longe de ser o ideal. Por que “carga de água” irá o odivelense espairecer ao fim-de-semana para o fundo de um vale, cruzado por várias ribeiras malcheirosas (o Vereador, aliás, explica na mesma entrevista), com vista para a suplicante Calçada de Carriche, para os viadutos da CRIL/CREL e do metro, para uma linha de alta tensão de 220 kV e para o insalubre Bairro dos Cágados? Só mesmo se o projecto for “fora de série”. Por outro lado, se é verdade que estamos a falar da entrada da Cidade (um local nobre, por excelência) e da continuação natural da recentemente construída marginal do Rio da Costa (que já conquistou alguns públicos), também é verdade que estamos a falar de uma zona de aluvião, em leito de cheia e, como tal, de alto risco para o dinheiro que lá se pretende enterrar. E, depois, há outros obstáculos, aliás referidos mais recentemente pelo Vice-Presidente Vítor Peixoto (cf. edição de 06.04.2006 do mesmo jornal): “É um projecto que implica procedimentos administrativos relacionados com terrenos privados e do INAG, pelo que se reveste de uma relativa dificuldade”. Ou seja, o Parque Urbano da Cidade será um projecto e não mais do que isso, que pode não chegar a bom porto por depender da vontade de terceiras partes.
Tenho alguma dificuldade em perceber, como cidadão, porque razão o local escolhido para se fazer o dito parque – cuja necessidade o próprio poder político já reconhece – não foi um dos muitos pontos altos de grande interesse paisagístico que (ainda) abençoam o nosso concelho. Vou citar apenas alguns exemplos que teriam sido (ou seriam) bem mais interessantes e arejados.
Na Serra da Amoreira, a Norte do Bairro do Casal dos Apréstimos, está a ser construída mais uma aberrante urbanização (Jardim da Amoreira) sem qualquer respeito por um sítio absolutamente fantástico, com uma vista única, das melhores que existem na AML depois das serras de Sintra e da Arrábida. Que belo parque este sítio daria!
Outro local, não tão magnífico, mas igualmente interessante remete para os terrenos ainda livres a Sul-Poente da Av. das Acácias / Arroja. Parece que também já está condenado para uma nova urbanização de um importante e conhecido construtor do eixo Vila Franca-Loures-Odivelas.
Pois é, parece que temos que nos contentar com as sobras!