27 fevereiro 2006

Marmelada

Tal como o País, Odivelas caracteriza-se pelo fraco aproveitamento das suas potencialidades. Um bom exemplo é a centenária “Marmelada de Odivelas”. Como nos explica Miguel Xara-Brasil no seu blogue “Um Rumo”, trata-se de uma marca de “elevadíssimo valor” mas insuficientemente valorizada. E ainda por cima ligada à história do deboche religioso odivelense, o que a poderia tornar ainda mais apetecível.
O contributo do Mosteiro de S. Dinis para a história da doçaria conventual portuguesa não se esgota, contudo, na marmelada. Os Suspiros de Amêndoa, as Raivas, os Tabefes, os Esquecidos e o Toucinho-do-céu eram outras especialidades das monjas (cf. CMO, A Doçaria Conventual Portuguesa).

26 fevereiro 2006

Ordem para demolir


Como já disse anteriormente, não sou filiado em nenhum partido político. Às vezes sinto-me de esquerda, outras vezes de direita. Depende das estações, dos meses, das semanas, dos dias e, por vezes, da hora do dia.
Nas últimas eleições autárquicas (de 9 de Outubro de 2005) não votei PS. Isto de se “sintrizar” o Concelho, “passando por cima” de ribeiras, de cabos de alta tensão e, sobretudo, do direito de todas as crianças em brincarem em espaços verdes e de lazer é coisa muito, muito feia. Está fora de moda e dá muito nas vistas, neste novo século (pós-moderno?).
Na semana passada saiu, no Diário da República (III Série, n.º 39, de 23 de Fevereiro), um concurso público da CMO, assinado pela Dr.ª Susana Amador e tendo como objecto a “demolição de construções abarracadas, ilegais, monoblocos e pré-fabricados, bem como de pequenas obras e escoramento de coberturas nos casos de risco. A empreitada compreende também o emparedamento, mudanças de haveres, mudanças de fechaduras e outras pequenas e médias intervenções, tanto nas construções precárias como no património habitacional municipal existente no concelho de Odivelas” (p. 4046).
Entretanto, já amanhã vão começar a ser demolidas as primeiras barracas por detrás da Igreja da Sagrada Família de Nazaré (confluência das ruas Domingos Sequeira e Alfredo Roque Gameiro, Odivelas), por iniciativa do Departamento Municipal de Habitação (ver foto). Trata-se de uma situação degradante, muito próxima da Av. Prof. Doutor Augusto Abreu Lopes, que se prolongava há muitos anos e pedia uma intervenção urgente (consta que inicialmente prevista para Setembro de 2005).
Serão isto sinais de que o estilo de gestão da Câmara Municipal está a mudar? Será que após o primado do betão virá o primado da reabilitação urbana, da integração social, do ambiente e da cultura? Estaremos todos atentos, seguramente.

23 fevereiro 2006

Piscina dos Olivais

Foi com alguma pena que soube, através do Público de hoje, que a Piscina dos Olivais tem os dias contados tal como a conhecemos, prevendo-se a demolição das piscinas olímpica (50 metros) e de saltos bem como a completa remodelação deste complexo dos anos 60.
Para os jovens lisboetas da minha geração (de 70), a Piscina dos Olivais era uma espécie fuga ao estio em tempo de férias para todos aqueles que não tinham nem dinheiro nem pachorra para ir à Costa e que não queriam colocar a saúde em risco no meio dos famosos “carcavelhinhos” (cagalhões a boiar) da Linha.
Não é que não houvessem outras piscinas em Lisboa com o seu encanto – como a Piscina do Areeiro, eternizada pelos Ena Pá 2000 no seu “Sexo na Banheira” (“Tive um encontro na Piscina do Areeiro...”). Mas, os Olivais tinham qualquer coisa de mágico.
Em primeiro lugar, não era todos os dias que se nadava numa piscina com 50 metros, caso único em Portugal.
Em segundo lugar, saltar de 3 metros de altura também não era para todos, e havia mesmo quem saltasse a rede para saltar de 10 metros. Contava-se, aliás, que já tinham havido casos de quem não tinha ficado para contar a emoção de saltar de tamanha altitude.
Em terceiro lugar, haviam os relvados e as sombras, que permitiam estender a toalha ao sol. E haviam também as bancadas que eram óptimas para mirar as actividades lúdicas do sexo oposto.
Bom tempos...
Bem, permanece a esperança de o novo complexo ser ainda melhor e mais fascinante que o antigo, caso venha a ser construído (há sempre o risco de após o camartelo não surgir nada de novo durante uns anitos). A ideia do vereador Pedro Feist é “que o local se torne na praia da zona oriental de Lisboa” (de acordo com o Público) e, quem sabe, das populações de Odivelas e Loures.

P.S. – Talvez o leitor não saiba mas as freguesias mais orientais do actual Concelho de Odivelas (Póvoa de Santo Adrião e Olival Basto) integraram o antigo Concelho dos Olivais, entre 1852 (data da extinção do Termo de Lisboa) e 1886 (quando o Concelho de Lisboa assume a sua actual configuração). Existe, portanto, uma ligação histórica entre o nosso concelho e os Olivais, que hoje recordamos a propósito do tema da certidão de óbito da Piscina dos Olivais.

22 fevereiro 2006

Que bom que é construir na encosta (I)


Territórios declivosos, como o de Odivelas, são um drama para quem cá vive e gosta de andar a pé ou de bicicleta mas óptimos para construir. Porquê? Bem, a razão remete para o engenho e para o chico espertismo dos construtores: quando um determinato lote apresenta uma pendente significativa, o construtor faz da cota máxima a de soleira (R/C) e até à cota mínima desata a construir caves não enterradas. As vantagens são inúmeras: poupa-se nas terraplanagens, na contenção periférica, em rampas de acesso às garagens (tudo coisas que encarressem muito as obras) e, com sorte, ainda se fazem umas lojitas na cota mínima. Bom, bom é quando há ribeiras, de preferência com margens bem inclinadas.
Este fenómeno não é exclusivo de Odivelas, assumindo proporções dramáticas no Concelho de Sintra, também ele de relevo dinâmico: por exemplo, aconselha-se o leitor que gosta destes temas a viajar de Belas a Queluz (ao longo do Rio Jamor) que fica logo sensibilizado para o fenómeno ainda antes de sair do primeiro povoado!
Há muito exemplos de pisos não enterrados abaixo da cota de soleira também no nosso concelho, que vão dar vários “posts” interessantes. Vamos começar pelo Jardim da Radial (Ramada): na foto é possível observar dois pisos não enterrados abaixo do R/C e um passeio que custa a galgar. Mas há pior. Fiquem atentos!

18 fevereiro 2006

Esclarecimento

Alguns prezados leitores têm vindo a manifestar estranheza perante as “curiosidades históricas picantes” envolvendo a nobreza e as antigas monjas de Odivelas que tenho vindo a divulgar com alguma regularidade.
Informo os leitores que a saga “Boa vida” continuará, essencialmente por duas razões:
Em primeiro lugar, por motivos lúdicos. Existe passatempo mais divertido do que explorar a podridão das elites, que são, quase de certeza, as grandes responsáveis pela desgraça de Portugal?
Em segundo lugar, por motivos pedagógicos e prospectivos. Esses relatos de amores freiráticos de outros tempos servem essencialmente para provar a seguinte tese: Odivelas é terra de má fama há muitos, muitos séculos.
Ora, como um observador atento facilmente perceberá, os territórios – nomeadamente da Área Metropolitana de Lisboa (AML) – travam entre si uma luta feroz em termos de fixação de empresas, de equipamentos colectivos, de grandes superfícies comerciais e de classes abastadas.
O grande problema de Odivelas é a sua má imagem perante o exterior, que decorre, pelo menos em parte, desse passado nada glorioso, e também de contingências de cariz social e urbanístico. Tornar Odivelas um território altamente competitivo no seio da AML (já não digo no País) exigiria algo absolutamente extraordinário e marcante, um verdadeiro corte com o passado.
Alguém se lembra do que era o Concelho de Oeiras há vinte anos? Era um território “entalado” entre Lisboa e Cascais, com zonas balneares em acelerada decadência (fruto da poluição das ribeiras), com subúrbios iguais a tantos outros, com graves problemas de habitação degradada (barracas) e com uma zona interior rural e deprimida. Hoje é um dos concelhos mais competitivos e com melhor qualidade de vida do País, sede de empresas de forte conteúdo tecnológico (a importância do Tagus Parque) e residência de muitas famílias com elevado poder de compra.
Os últimos 7 anos significaram para Odivelas fundamentalmente rotundas, urbanizações medíocres e funcionários públicos. Daqui a 20 anos, será Odivelas muito diferente do que é hoje – o “Quintal de Lisboa”?

16 fevereiro 2006

Enterrem os cabos! (II)


A questão das linhas de alta tensão foi objecto de uma pioneira, e louvável, reportagem do jornal Nova Odivelas (18-02-2006), com o título sugestivo “Com vista para Alta Tensão”. Ficámos todos a saber que, como é hábito em Portugal, ninguém assume as responsabilidades por uma situação que degrada a imagem da nossa cidade e coloca em risco os seus habitantes. A REN não tem culpa nenhuma: as linhas já lá estavam antes das urbanizações. A Câmara não diz nada sobre o assunto, pelo que se depreende que também não é nada com ela. Resta o cidadão como grande culpado. É culpado, é – porque se cala, porque não se mexe, porque não cria um movimento cívico para acabar com esta vergonha. Enterrem os cabos!!!
P.S. – Quem estiver disposto a colaborar na criação desse movimento que se acuse. Obrigado.

14 fevereiro 2006

Amar em Odivelas


O que sobrou de uma “batalha” entre uma sexta e um sábado, numa escada qualquer, de um prédio qualquer de Odivelas.
No dia de S. Valentim, importa perguntar: quantos locais existem em Odivelas que convidem a namorar?

13 fevereiro 2006

Miradouros (I)


Os miradouros são uma grande invenção. Permitem arejar, a mente e o corpo; são educativos, no sentido em que facilitam o conhecimento e a compreensão do território; favorecem a relação afectiva com as cidades, mesmo quando deles se miram espaços urbanos desordenados e caóticos, dado que a distância focal tipicamente favorece a paisagem; e permitem namorar, uma prática que parece estar em desuso entre os mais jovens.
Lisboa é, como se sabe, cidade de magníficos miradouros: Senhora do Monte, Graça, Castelo, Santa Luzia, Monte Agudo, Torel, Santa Catarina, S. Pedro de Alcântara, Janelas Verdes, Montes Claros, entre outros.
O território do Concelho de Odivelas é abençoado por vários pontos altos de grande interesse paisagístico. Contudo, sem se perceber muito bem porquê, não existe uma rede estruturada de miradouros. Na Cidade de Odivelas, em particular, apenas me lembro do jardim junto à Quinta Nova (perto do supermercado), cuja vista é, aliás, “embelezada” pelos inevitáveis postes de alta tensão e pelo urbanismo caótico em torno das já citadas Torres Gémeas.
Contudo, existem na Cidade, e no Concelho, vários pontos que poderiam dar óptimos miradouros. Um desses sítios é junto ao moinho da Ribeirada, não longe da nova urbanização. Daqui se avista a Serra da Amoreira, as várias Ramadas (de Cima, de Baixo, Jardim da Radial) e o cavado (e belo) vale da Ribeira de Caneças (ver foto). O sítio é óptimo para a instalação de uma esplanada dado ser voltado a poente. E existe também espaço para se fazer um jardim, apesar da pendente. Alguém sabe se para este local existem planos para um espaço de lazer? Ou será que a Urbanização da Ribeirada não parará e roubará mais uma oportunidade a todos os odivelenses (e não só) de passarem um final de tarde porreiro e em paz de espírito?

12 fevereiro 2006

Palavra de Presidente

Durante o seu atribulado périplo pelo interior, o Presidente da República cessante lembrou-se de adjectivar de “soturnas” as “periferias dos centros urbanos” da costa portuguesa (cf. Diário de Notícias, 10.02.2006, p. 5). Não me lembro, sinceramente, do Dr. Jorge Sampaio ter tomado qualquer iniciativa nos últimos 10 anos no sentido de tornar as periferias menos soturnas – excepto, talvez, a recente visita ao Bairro da Cova da Moura. Ou de ter utilizado, de forma visível, a sua magistratura de influência no sentido do Estado garantir que todas as periferias de Lisboa, nomeadamente as mais envelhecidas e ameaçadas pela exclusão social (como é o caso de Odivelas), serem servidas por equipamentos de saúde e de apoio social condignos.

10 fevereiro 2006

Ainda as Torres Gémeas


As Torres Gémeas cresceram indiferentes aos postes de alta tensão, como não poderia deixar de ser. Uma imagem vale mais que mil palavras...

07 fevereiro 2006

As Torres Gémeas


Que tristes são as Torres Gémeas de Odivelas, sitas nas ruas Alves Redol e Palmira Bastos. Tratam-se de dois “monstros” de 16 andares, com cerca de 70 apartamentos cada. Têm tantos pisos como a tristemente célebre “Torre Oeiras” da Reboleira Norte, assim designada em homenagem ao antigo concelho da Freguesia da Reboleira (entretanto integrada no “revolucionário” Concelho da Amadora). Em 2004, no penúltimo (15.º) andar dessa torre morreu uma idosa num incêndio por ausência de uma auto-escada de bombeiros suficientemente alta para atingir tão avantajado “arranha-céus” (cf. Diário de Notícias, 09.12.2004). Que Deus, e o destino, nos livre de semelhante desgraça nas Torres Gémeas de Odivelas. Estaremos preparados para essa eventualidade?

03 fevereiro 2006

Boa vida (II)

Ainda sobre o rei D. Afonso VI é importante referir que o seu casamento com D. Maria Francisca Isabel de Sabóia foi dissolvido por não ter sido consumado. Ou seja, de quem D. Afonso VI gostava era mesmo das freiras “italianas” e “mouras” de Odivelas ...

02 fevereiro 2006

Boa vida (I)

Deixemos a neve e passemos às curiosidades históricas. Hoje vamos falar de um grande admirador das freiras de Odivelas: o rei D. Afonso VI.
Amante da vida boémia, é sobretudo conhecido por sua mulher, D. Maria Francisca Isabel de Sabóia, o ter trocado pelo irmão, ou seja, pelo cunhado dela, o futuro rei D. Pedro II. Obrigado a abdicar (em 1667), D. Afonso VI fica detido em Sintra, no Palácio da Vila. Reza a tradição que aí terá passado os últimos anos da sua vida (morreu em 1683), tendo sido o chão do seu quarto gasto pelos seus passos (cf. Manuel de Sousa, Reis e Rainhas de Portugal, Mem-Martins: SporPress, 2000, pp. 121-122).
Muito deve ter sofrido D. Afonso VI com saudades de Odivelas, na bela Vila de Sintra:
“Uma instituição monástica, o convento das freiras de Odivelas, às portas de Lisboa, deu que falar até finais do século XVIII e ficou na história de Portugal como paradigma da vida freirática da época. Ali, freiras e noviças enfeitam-se de flores e usam luvas presas com fitas, que deixam ver pulseiras cravejadas de pedras preciosas. D. Afonso VI é visitante assíduo do convento, onde mantém encontros amorosos com noviças muito jovens. As religiosas cantam canções «indecentes», dançam e exibem-se perante o rei em trajes masculinos” – explica-nos Dejanirah Couto, em História de Lisboa (Miraflores: Gótica, 2003).
D. Afonso VI teve duas freiras preferidas em Odivelas. Como Manuel Bernardes Branco refere: “D. Feliciana de Milão fôra amante de D. Affonso VI; este, porém, deixou-a para travar de amores tambem com outra freira d’Odivellas, por nome D. Anna de Moura” (op. cit., pp. 129-130), que alimentaram acesa disputa pelo monarca. Notar que Ana de Moura era irmã de Gil Vaz Lobo Freire, o fundador da Ermida de Nossa Senhora do Monte do Carmo, hoje integrada na Biblioteca Municipal D. Dinis (cf. “post” Como era bela ..., de 09-01-2006). Boa vida!